fora da sua missão, oferecia pouco ou nenhum interes-
se ou atrativo”.
Uma das primeiras ações de Stalin após o 1o de Maio
de 1901 foi montar uma gráfica clandestina e editar o
jornal “Brdzola” (A Luta), que saiu em setembro. No se-
gundo número, lançado em dezembro, um ensaio não
assinado de Stalin trazia considerações sobre a Rússia
e o cenário de descontentamento, propício à revolução.
Uma das conclusões no artigo e em seus métodos era de
que o regime czarista, com sua política de sempre levan-
tar o chicote indistintamente para manifestantes e curio-
sos nas ruas, estaria apenas aumentando a fileira de re-
volucionários e que não seriam necessários mais que três
anos para o “espectro” surgir. Foi uma profecia certeira,
pois em 1905 explodia a Revolução.
PRIMEIRA PRISÃO E O NASCIMENTO
DOS BOLCHEVIQUES
O trabalho de Stalin e o perigo que corria em Tbi-
lissi fizeram que ele fosse enviado a Batum, região de in-
dústria petrolífera, para organizar o movimento grevista.
Foi em Batum que passou a usar o codinome Koba, que
significava “o indomável”, no lugar de Djugachvili. Elegeu
o comitê social-democrata da cidade, montou uma grá-
fica clandestina e escreveu panfletos destinados aos tra-
balhadores das indústrias do petróleo, até ser preso em
abril de 1902.
Ao mesmo tempo em que Stalin adentrava de cabeça
no movimento, crescia na Rússia a fama de um orador e
teórico marxista que viria a ser o grande herói da revolu-
ção – Wladimir Lenin. Seu nome já era conhecido pela
Europa Ocidental, de onde escrevia artigos a respeito do
marxismo na Rússia. A rigor, estava exilado desde a pri-
são, em 1898, numa das reuniões prévias da fundação do
partido. Lênin seria o grande herói e inspirador de Stalin.
Os dois tiveram papéis díspares nos anos que ante-
cederam à Revolução de 1905. Stalin passou um ano e
meio preso no Cáucaso até ser deportado para uma pri-
são na Sibéria. Deustscher lembra que a prisão do regi-
me czarista era uma “mistura de brutalidade e ineficiên-
cia liberal”: brutalidade suficiente para confirmar o ódio
dos prisioneiros ao regime e ineficiência para não evitar
a continuidade dos estudos e dos trabalhos revolucioná-
rios de dentro da prisão. Ou seja, a prisão servia quase
como uma universidade, onde os presos obtinham uma
melhor formação revolucionária e mantinham contato
com grandes nomes do movimento.
Enquanto isso, Lênin participava do Congresso dos
Sociais-democratas Russos em julho de 1903. Previs-
to para acontecer em Bruxelas, acabou transferido para
Londres porque a polícia descobrira o evento. A reu-
nião do congresso marcaria a divisão do partido russo
em duas facções – a dos bolcheviques e a dos menchevi-
ques. O desacordo começou quando Lênin propôs o pa-
rágrafo primeiro do estatuto partidário para a definição
de quem poderia ser considerado membro do partido. A
exigência dele era de que só seria do partido quem atua-
sse pessoalmente ou fosse de alguma organização liga-
da ao partido. A outra proposta, feita por Martov, abria
espaço para simpatizantes e colaboradores fortuitos. Se-
gundo Daniel Aarão Reis Filho, em “As Revoluções Rus-
sas e o Socialismo Soviético” (Editora UNESP, 2003),
para Lênin “só poderia ser considerado filiado, com di-
reito de voto, os militantes que participassem regular-
mente em organizações do partido. Lênin propunha
uma organização de profissionais, totalmente devotada
à ação política, capaz de resistir ao rigor repressivo da
polícia política czarista, disponível, sem restrições, para
as tarefas revolucionárias”.
A proposta de Martov venceu por 28 votos a 23, mas,
ao fim do congresso, quando da votação para a eleição
dos dirigentes do partido do jornal “Iskra”, oito votantes
de Martov haviam abandonado o plenário e o placar da
votação foi favorável aos partidários de Lênin. Este ape-
lou para o caráter legal da votação, exigindo sua vitória,
mesmo sendo questionado pela minoria derrotada. Daí
nasceu a origem dos nomes – bolchevique vem de “maio-
ria” (bol’chinstvo), enquanto menchevique é oriundo de
“minoria” (men’chinstvo). Ao final, a facção de Lênin saiu
de fato vitoriosa e com o comando, não sem sofrer boi-
Uma das conclusões de Stalin no artigo e em seus métodos
era de que o regime czarista, com sua política de sempre
levantar o chicote indistintamente para manifestantes e
curiosos nas ruas, estaria apenas aumentando a fileira
de revolucionários e que não seriam necessários mais que
três anos para o “espectro” surgir. Foi uma profecia certeira,
pois em 1905 explodia a Revolução