Grandes Ditadores da História - Hitler & Stalin - Edição 01 (2019-08)

(Antfer) #1

gundo ele, “a Rússia era tanto um país industrial impor-
tante como uma economia camponesa tecnologicamen-
te medieval; uma nação imperial e uma semicolônia. (...)
O único elemento que faltava para fazê-la explodir em
erupções simultâneas era a guerra mundial, que a Eu-
ropa cada vez mais esperava e que foi incapaz de evitar”.
A guerra explodiu e a Europa se viu dividida em dois
blocos. A Rússia entrou ao lado da França e da Sérvia,
contra a Alemanha e a Áustria (Império Austro-húnga-
ro). No início, contra os austríacos, o exército russo obte-
ve vitórias que ajudaram a inflar o nacionalismo do povo.
Mas, quando passaram a guerrear contras as tropas ale-
mãs, as coisas foram vistas pela sua realidade: derrotas
que deixavam clara a diferença de capacidade de guerra
entre os dois países, o mesmo atraso detectado na guer-
ra contra o Japão em 1904-1905. “Na guerra regular en-
tre a metralhadora e a baioneta, a locomotiva e o cavalo, o
canhão e o fuzil, tendeu a predominar o melhor equipa-
mento”, escreveu Daniel Aarão Filho. Em seguida, o autor
detalha o problema do exército russo: “A Rússia tinha sol-
dados de valor, mas faltavam-lhes armas modernas, mu-
nições, transportes, oficialidade sintonizada com as exi-


gências da guerra moderna, apoiada na grande indústria”.
Assim, a situação do regime do czar tornou-se ex-
tremamente delicada, piorando com o posicionamento
contrário à guerra e ao próprio regime por parte dos bol-
cheviques. Além disso, o caos econômico adveio, com in-
flação alta e escassez de produtos alimentícios.
Lênin, na Suíça, recebeu a notícia da guerra com fer-
vor. “Este é o melhor presente que o czar poderia nos
dar”, teria dito. Em seguida, entrou em depressão ao ver
que os deputados socialistas alemães apoiavam a guerra.
Então, passou a agir contra a guerra e em favor da Re-
volução. Lançou o slogan de “transformar a guerra impe-
rialista em guerra civil” e se declarou um “derrotista revo-
lucionário”. Tal postura, que seria adotada pelos bolche-
viques, seria tratada como traição pelo czar, e a resposta
veio em forma de prisão dos deputados socialistas que se
declaravam contra a guerra.
Trotski, de Paris, também se posicionou contra a
guerra, pregando “nem vitória nem derrota, mas Revo-
lução”. Enquanto isso, Stalin continuava preso. Historia-
dores divergem quanto ao papel dele nesse período. Al-
guns dizem que, com as novas prisões, ele teria convivi-
do com diversos novos companheiros que o atualizaram


quanto à situação da guerra e à posição “derrotista” de
Lênin. Outros dizem que Stalin teria defendido ardoro-
samente o ideal leninista e ficado a seu lado. E existem os
que afirmam que ele não teria dado confiança ao assunto
e se mantido sem opinar, sem se posicionar, esperando
que as coisas se precipitassem e, assim, pudesse apoiar o
lado do vencedor.
É difícil crer que Stalin não tenha desde o início
apoiado o derrotismo revolucionário leninista. Ele fazia
parte do grupo mais radical bolchevique, e acreditava na
Revolução acima de tudo. Dessa forma, qualquer opor-
tunidade para abreviar o czarismo e implantar a Revolu-
ção seria bem-vinda.
É bom ressaltar que a ideia de Revolução de Lênin
e dos bolcheviques não era a tomada do poder do pro-
letariado para a implantação do socialismo. Seguiam à
risca o ideário marxista de que o socialismo só poderia
ser adotado após o desabrochar da burguesia e do capi-
talismo. Na Rússia de então, o que se buscava era der-
rubar a autocracia czarista e implantar um regime libe-
ral que pudesse, aí sim, levar ao socialismo e à ditadu-
ra do proletariado. A revolução na Rússia deveria servir
de estopim para “acordar” os operários europeus, estes,

sim, vivendo na etapa prévia ao socialismo. O próprio
Lênin, poucos dias antes da queda do czar, se questio-
nava se viveria para ver o socialismo na Rússia. Hobs-
bawm, em “Era dos Extremos” (Cia das Letras, 2000),
aponta esse caráter global da Revolução de Outubro de


  1. “Foi feita não para proporcionar liberdade e socia-
    lismo à Rússia, mas para trazer a revolução do proleta-
    riado mundial. Na mente de Lênin e de seus camaradas,
    a vitória bolchevique na Rússia era basicamente uma ba-
    talha na campanha para alcançar a vitória do bolchevis-
    mo numa escala global mais ampla”.
    Foi dentro desse cenário de incertezas, de caos políti-
    co e econômico que, em 2 de março de 1917 (o calendá-
    rio russo vigente era o juliano e não o gregoriano, o que
    dava uma defasagem de 13 dias em relação ao Ocidente;
    assim, tais eventos, inclusive a abdicação do czar, ocorre-
    ram na Rússia em fevereiro – daí esses acontecimentos
    serem chamados de “Revolução de Fevereiro”), depois de
    uma greve geral que parou o país por quatro dias, o czar
    abdicou. “Quatro dias espontâneos e sem liderança na
    rua puseram fim a um Império”, escreveu Hobsbawm. A
    fragilidade do regime ficava aí evidente.


Em 1907, Lênin profetizou: “Começou uma era de contra-


-revolução; e vai durar uns 20 anos, a não ser que o czarismo


nesse meio-tempo seja abalado por uma grande guerra”

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