Nadia o acompanhou como secre-
taria, que se tornaram amantes.
Mais de 20 anos os separava. O ca-
sal era muito apaixonado, mas isso
não se traduzia numa vida reple-
ta de convivência. Stalin era casa-
do, antes de tudo, com a revolução
e com o poder. Poucos anos depois,
nasceu Vassili, o primeiro filho, se-
guido de Svetlana.
Nadia mandava dentro de casa.
A comunicação entre eles, muitas
vezes, era feita por cartas e bilhe-
tes, principalmente quando ela via-
java de férias com os filhos. Dentro
de seu mundo peculiar, Stalin ama-
va Nadia. Podia não ser o cavalhei-
ro romântico de fábulas, mas nas
cartas sempre era carinhoso e amo-
roso. A relação era difícil, mas sa-
biam se entender. Talvez o proble-
ma maior entre eles brotara no fim dos anos 20, quando
Nadia demonstrou interesse em fazer uma carreira pro-
fissional no partido sem ser considerada a esposa do che-
fe. Queria subir por seus méritos. Em 1929, prestou exa-
me para a Academia Industrial. Seu foco era o estudo e
a vida profissional, o que fez que negligenciasse a vida fa-
miliar. Além disso, Nadia tinha problemas sérios de saú-
de – dores de cabeça, fadiga, angina e artrite, sem contar
uma espécie de esquizofrenia que a enlouquecia de tem-
pos em tempos. Essas crises abalavam o casamento e a
relação com Stalin.
Foi nesse contexto, entre uma relação de paixão e ciú-
me, que o casal se preparou para o jantar anual em come-
moração ao 15o aniversário da Revolução. Era 8 de no-
vembro de 1932. Nadia, no apartamento do casal, vestia
um vestido preto longo moderno, ao qual bordou rosas
vermelhas, e resolveu fazer um penteado diferente. En-
quanto isso, Stalin permanecia em reunião com o chefe
da polícia secreta russa. Em seguida, ao lado de Molotov
e de outros assessores, saíram para a festa.
“Em algum momento da noite, sem que os outros
presentes notassem, Stalin e Nadia ficaram bravos um
com o outro. O fato não era raro. Para ela, a noite come-
çou a desmoronar quando, entre brindes, danças e flertes
ao redor da mesa, Stalin mal notou como ela se vestira,
ainda que fosse uma das mulheres mais jovens presen-
tes”, conta Simon Montefiore em “Stalin – A corte do
Czar Vermelho”.
Assim, irritada, Nadia seguiu para o salão e come-
çou a dançar com seu padrinho. Começou um jogo de
flerte entre ambos, assim como Stalin flertava com a es-
posa de um comandante do Exército Vermelho. Segun-
do as descrições feitas por Monte-
fiore, era normal a infidelidade na
cúpula do poder soviético, e casos
entre esposas e maridos alheios
aconteciam com regularidade.
Mas, naquela noite, Nadia fi-
cou irada com o flerte descarado do
marido. Talvez mais ainda ao notar
que sua provocação a ele não surti-
ra efeito. O orgulho dela estava fe-
rido. Ainda ressoava em sua mente
talvez uma noite em que foram ao
teatro e Nadia teve um ataque his-
térico de ciúmes ao ver Stalin flertar
com uma bailarina.
Nesse cenário, de provocações
e insinuações de ambos os lados,
Stalin propôs um brinde. Percebeu
que Nadia não levantara a taça e
atirou cascas de laranja nela. Quan-
do ela se virou, disse: “Ei, você!
Beba um drinque!”. A resposta de Nadia foi um tan-
to rude. “Meu nome não é ‘ei’!”, e complementou man-
dando-o calar a boca. Em seguida, deixou a sala, com
a amiga Polina, que a acalmou e a acompanhou até sua
casa. A hora que Stalin voltou para casa é um mistério,
mas tem-se notícia de que saiu beber com outros com-
panheiros, inclusive com a mulher de um deles. Certo
é que algo fez que ela se desesperasse e se lembrasse de
um presente recebido do irmão – uma pistola femini-
na. Nadia sentou-se e escreveu “uma carta terrível” para
Stalin para, em seguida, acabar com sua vida.
A manhã começou em pavor no palácio. Stalin dor-
mia de um lado do corredor enquanto, no outro, o corpo
de sua esposa já havia sido encontrado em meio a uma
poça de sangue. A governanta chamou outros emprega-
dos, que ligaram para a família de Nadia, para o padrinho
dela, a amiga que a deixara em casa e também o médico.
Stalin soube em seguida e ficou arrasado. “Aquela
criatura política ao extremo, com um desrespeito desu-
mano pelos milhões de mulheres e crianças que mor-
riam de fome em seu país, exibiu mais humanidade nos
dias seguintes do que o faria no resto de sua vida”, es-
creveu Montefiore. Stalin tomou um calmante e chora-
va diante do corpo. Clamava: “Ela me aleijou. Oh, Na-
dia, como precisamos de você, eu e as crianças!”. Chegou
mesmo a declarar que renunciaria ao poder, que não po-
dia continuar vivendo daquele jeito...
Um sobrinho de Stalin, Leoned Redens, acreditava
que esse suicídio alterara a história e tornara o Terror
que viria em seguida – os expurgos – inevitável. Seria
a tragédia pessoal de Stalin um dos fatores da tragédia
maior de sua nação?
A segunda
esposa, Nadia,
era do partido
bolchevique. Stalin
e ela tiveram
uma vida
marcada por
amor e brigas,
que culminaria
no trágico
suicídio da
mulher em 1932