de Vissarion em não ter ascendido socialmente com sua
mudança o fez gastar o pouco que ganhava com vodca,
obrigando mais ainda a esposa a trabalhar. Há referências
de colegas de Stalin que lembram do pai bêbado surran-
do o filho e até a mulher. Um deles disse: “Aquelas sur-
ras terríveis e sem propósito fizeram do filho um homem
duro, acostumado a enfrentar situações violentas”.
Apesar de forte em saú-
de, Stalin passou por pro-
blemas quando criança que
o afetariam para o resto da
vida. Um deles foi a varío-
la, que teve aos 7 anos e que
lhe deixou marcas no rosto;
outro foi uma infecção no
braço esquerdo, que, mes-
mo após a recuperação, dei-
xou o movimento prejudi-
cado e o membro mais cur-
to que o direito. Sobre este
episódio, Stalin declarou à
sua cunhada posteriormen-
te: “Não sei o que me sal-
vou, se minha constituição
robusta ou o unguento de
um charlatão de aldeia”.
A figura paterna viveria
pouco ao lado do filho, pois
morreria, segundo alguns,
numa briga de rua, quan-
do o menino tinha 11 anos.
Em termos financeiros, não
surtiu muita diferença no
orçamento familiar, pois, de
fato, o sustento era provido
pela mãe. O pai, mesmo levando a
família a Tbilissi para tentar a vida
numa fábrica de sapatos, não con-
seguiu nada além de trocar, como
escreveu Isaac Deutscher em “Sta-
lin: Uma Biografia Política” (Civi-
lização Brasileira, 2006), “a escra-
vidão à terra pela escravidão as-
salariada”. Sua morte, em 1890,
colocou apenas fim a uma relação
conturbada e, muitas vezes, violen-
ta entre pai, mãe e filho. Em toda
sua vida, pouco Stalin falaria a res-
peito do pai, e quase nada se sabe
sobre ele.
Em relação à mãe, Deutscher
também teceu considerações:
“Ekaterina possuía a paciência e o
espírito de submissão infinitos da camponesa oriental.
Suportava sua sorte com tenacidade, sem guardar res-
sentimento do marido. Dedicava toda a ternura ao úni-
co filho vivo. Era profundamente religiosa; só encontrava
consolo para as aflições na igreja. Era também analfabe-
ta. Só na velhice iria aprender a ler, mostrando-se, assim,
digna do filho famoso”.
A IDA PARA O
SEMINÁRIO
O caráter religioso da
mãe ajudou na decisão de
enviar o pequeno Soso –
apelido pelo qual era cha-
mado Stalin pelos mais
próximos, que era um di-
minutivo georgiano de Iossef
(algo como nosso Zezi-
nho) – para a escola ecle-
siástica de Gori. Deseja-
va intimamente a mãe que
seu filho fosse um homem
dedicado à religião, um
sacerdote. Desde muito
criança, Soso frequentava
a igreja e cantava no coro.
Daí a alegria da mãe quan-
do, em 1894, ele ingressou
no Seminário Teológico de
Tiflis, com a indicação de
“melhor aluno”. Graças ao
diretor da escola e a um
padre, Stalin recebeu uma
bolsa de estudos e assim
conseguiu continuar sua
formação no seminário.
Ainda na escola em Gori, al-
gumas características foram des-
tacadas na personalidade de Sta-
lin, entre elas a excelente memória
e a facilidade para aprender. No
campo físico, era ágil e forte e do-
minava os colegas nas brincadei-
ras. Em compensação, já teria de-
monstrado sua agressividade e de-
senvolveria ali um pensamento de
questionamento quanto às dife-
renças sociais – já que era o único
filho de camponeses na escola. Foi
em Gori também que aprendeu o
idioma russo, ensinado na esco-
la quase que exclusivamente, ape-
sar de em casa Stalin falar o geor-
Em 1894 , Stalin
ingressou no Seminário
Teológico de Tiflis,
com a indicação
de “melhor aluno”.
Graças ao diretor da
escola e a um padre, o
rapaz recebeu bolsa
de estudos e
conseguiu continuar
sua formação
de seminarista
AFP