as runas também
eram usadas para
evocar a vingança
e predizer o futuro.
Os símbolos mági-
cos eram inscritos
em pedra, madeira
ou couro e usados
pelos xamãs nór-
dicos em feitiços e
para acessar o mun-
do sobrenatural. As
runas evocavam,
também, os ciclos
do homem. Atra-
vés delas, o rune-
mal, aquele que lia
as runas, tinha um
sistema de autoco-
nhecimento. Esse
oráculo é muito an-
tigo. O historiador grego Heródoto, ao viajar pelo Mar
Negro, encontrou xamãs que “se enfiavam debaixo de co-
bertores, fumavam até ficar em uma espécie de transe e, en-
tão, lançavam gravetos no ar, ‘lendo’ seu significado quando
caíam no chão”. Para o pesquisador Ralph Blum, autor
de O Livro de Runas, “esses gravetos eram, provavelmente,
uma forma primitiva de runas”. Mas a arte do runemal –
a interpretação das runas – se perdeu no tempo. Embora
esse conhecimento secreto fosse passado através de inicia-
ção pelos mestres rúnicos do passado, seus segredos não
foram registrados e, se foram, não chegaram até nós.
Os últimos runemais foram mestres islandeses que vi-
veram no final da Idade Média. A sabedoria morreu com
eles, e nada permaneceu, além das sagas, a requintada li-
teratura desenvolvida pelos bardos, ou poetas nórdicos.
Hoje, embora muitos consultores espirituais usem runas,
seu método de leitura não tem nada a ver com aquele dos
runemais. Provavelmente, o grafismo rúnico mais conhe-
cido é justamente o símbolo da SS, a elite nazista. O sím-
bolo é baseado na runa sig, associada ao sol, à vitória e à
madeira de freixo, da qual se cortavam os arcos dos guer-
reiros. Essa runa é uma marca notória da preocupação na-
zista em usar letras rúnicas como símbolos arianos. No
entanto, o mais famoso ícone nazista, a suástica, não tem
uma origem exclusivamente ariana, mas universal.
A SUÁSTICA
A suástica evoca inevitavelmente imagens de guerra,
caos, destruição, Holocausto, intolerância. No entanto, ela
foi, durante milhares de anos, até Hitler, um símbolo de
boa sorte, conhecido em toda a Europa, a Ásia, e até pe-
los índios norte-americanos.
Costumava-se dizer que as
pegadas do Buda eram suás-
ticas. Cobertores dos índios
navajos eram tecidos com
suásticas e, pasme, sinagogas
no Norte da África e na Pa-
lestina foram decoradas com
mosaicos de suásticas.
As mais antigas suás-
ticas conhecidas datam de
2.500 ou 3.000 a.C. na Ín-
dia e na Ásia Central. No
norte da Europa, ela apa-
receu no primeiro milê-
nio a.C. O nome suásti-
ca vem da palavra sânscri-
ta svastika, que significa
“bem-estar” e “boa fortuna”.
No entanto, vários autores
atribuem a ela diferentes
significados: da imagem do deus supremo, ao símbolo
solar; da representação do raio e da água, ao símbolo do
fogo; e da união do princípio masculino e feminino. De
fato, o significado da suástica parece variar com o tempo
e o lugar, as associações com outros elementos e os dife-
rentes objetos em que surge representada. Em uma anti-
ga lápide cristã, por exemplo, o símbolo aparece em des-
taque e com maiores dimensões que o crísmon – o mo-
nograma de Cristo –, sugerindo uma importância maior.
Talvez isso tenha a ver com o fato de a suástica já ter sido
usada como símbolo do coração do próprio Jesus, o que,
neste caso, estaria representando.
Mas como foi que um símbolo de tão bons desígnios
tornou-se sinônimo da cega barbárie de um regime intran-
sigente? Segundo Steven Heller, diretor de arte do The
New York Times Book Review e autor de The Swastika:
Symbol Beyond Redemption (A Suástica: Símbolo além da
Redenção) tudo começou em 1914, quando o Wandervo-
gel, um movimento juvenil alemão, a transformou em seu
emblema nacionalista. Em 1920, o Partido Nazista a ado-
tou. Em Mein Kampf (Minha Luta), Hitler descreveu seu
“esforço para encontrar o símbolo perfeito para o partido”,
foi quando teve a ideia de usar as suásticas. Mas foi o den-
tista Friedrich Krohn quem desenhou a bandeira com a
suástica no centro. “A maior contribuição de Hitler”, pensa
Heller, “foi inverter a direção da suástica” para que ela pa-
recesse girar no sentido horário. Isso levou muitos a afir-
mar que Adolf era um “feiticeiro negro”, uma vez que es-
tes costumam usar símbolos religiosos invertidos em suas
práticas mágicas. Em 1946, a exibição pública da suásti-
ca nazista foi proibida constitucionalmente na Alemanha.
A figura do grande ditador
era revestida de importância
religiosa. O Führer era visto
como um semideus pelos adeptos
do misticismo nazista. A seita
seguia a ariosofia, isto é, a sabedoria
oculta dos arianos. A temível SS,
composta pelos oficiais da elite nazista,
funcionava como uma sociedade
secreta, com iniciações
e transmissão de ensinamentos e
símbolos