National Geographic - Portugal - Edição 222 (2019-09)

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Os mapas da década seguinte, a primeira da
centúria de Quinhentos, são testemunho dessa
revolução que ganhou foros de espanto quando
se constatou que existia um continente de que
nunca sequer se suspeitara nas civilizações do
Velho Mundo e que só foi verdadeiramente in-
tuído pela primeira vez um decénio após a via-
gem inaugural de Colombo, através das descri-
ções de Américo Vespúcio.


CARTÓGRAFOS E ESCRITORES propuseram dife-
rentes hipóteses e, em 1507, Waldseemüller
esboçou a primeira prefiguração do continente
americano. No ano seguinte, o veneziano Ros-
selli imaginou a América do Norte como parte
do Extremo Oriente asiático e confinou o Novo
Mundo ao que é a América do Sul. De facto, o
Ocidente continuou incerto: seria o Novo Mun-
do toda aquela longa linha de costa que corria
de norte a sul sem se lhe encontrar uma inter-
rupção que deixasse prosseguir as navegações
mais para ocidente até aos portos da Ásia?
Nos primeiros anos do século XVI, enquanto
os castelhanos quase monopolizavam a explora-
ção do Novo Mundo, à excepção da costa do Bra-
sil, sobretudo depois do fracasso dos Corte Real
e do alheamento da Inglaterra de Henrique VIII,
Portugal forjava o seu império marítimo afro-
-asiático. Logo após o triunfo sobre Calicute, em
1505, Dom Manuel I começou a insistir no alar-
gamento da rede de postos do Estado da Índia
até Malaca. Apontou essa preocupação no regi-
mento de Dom Francisco de Almeida, primeiro
vice-rei da Índia. Reiterou essa ordem em cartas
enviadas em 1506 e acabou por enviar uma ex-
pedição directa ao porto malaio em 1508, sob o
comando de Diogo Lopes de Sequeira. Na Índia,
Fernão de Magalhães juntou-se a esta armada e
voltou a Malaca em 1511, quando Afonso de Al-
buquerque conquistou a cidade. Foi, pois, um
dos primeiros europeus com experiência repe-
tida na Sudeste Asiático.
A razão da persistência de Dom Manuel I no
avanço para Malaca prende-se, sem dúvida, com
a importância estratégica da cidade no contexto
do comércio asiático, pois era a escápula entre
as rotas do mar da China e as do oceano Índico.
No entanto, outra preocupação assaltava o es-
pírito do monarca – nos vinte anos que media-
ram entre a expedição de Cristóvão Colombo e a
descoberta de Balboa de que a costa da América
Central era inteiriça e que do outro lado se avista-
va outra massa de água, a que chamaram o “mar


do Sul”, persistiu o receio de que os castelhanos
(ou quaisquer outros europeus) irrompessem pe-
los mares da Ásia vindos do Novo Mundo. Nesse
contexto, Malaca seria a trincheira onde os avan-
ços dos rivais europeus deveriam ser travados.
Além disso, embora os portugueses tivessem
já obtido uma medida do raio da Terra muito
próxima da realidade, através de observações
astronómicas realizadas perto da linha do
equador, os rivais castelhanos não possuíam
essa informação e era necessário comprovar
esses cálculos secretos pela travessia de toda a
orbe terrestre. Quer isto dizer que as incertezas
sobre a zona por onde passava no Oriente a li-
nha de Tordesilhas foram alimentadas durante
várias décadas pelo facto de o Novo Mundo se
ter transformado numa barreira que impedia
os navegadores de Castela ou outros de avança-
rem para Ocidente.

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Depois de partirem,
os navios alcançaram
a ilha de Tenerife
(na imagem, pormenor
de um mapa francês
de cerca de 1750),
onde se abasteceram
de água e carvão.
Avançando para sul
entre a costa africana
e Cabo Verde, assolados
por tempestades
violentas em mar
aberto, atravessaram
finalmente o Atlântico
e chegaram à costa
do Brasil.
MAPSANDMAPS

À DIREITA
No dia 13 de Setembro
de 1519, dia de Santa
Lúcia, quase quatro
meses depois da partida
de Sevilha, os navega-
dores desembarcam
pela primeira vez.
Em redor da baía
onde fundeou a
expedição, baptizada
então com o nome da
santa, estende-se hoje
a cidade do Rio
de Janeiro.
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