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(Antfer) #1

Aos 50 anos, mudou o rumo da vida completamente


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Cotidiano
domingo, 24 de abril de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Matheus Moreira


DINORAH POLETTO PORTO (1937-2022)


Não há jeito certo de se viver. Dinorah Poletto Porto
certamente viveu à sua própria maneira e em seus
termos. Filha mais nova de seis irmãos, ela tinha paixão
por estudar. Formou-se em biologia e conciliou a sala
de aula com a produção de livros de biologia para o
ginásio.


Dinorah conviveu com cientistas por toda a vida e
acreditou profundamente na ciência até o fim da vida.


Até os 30 anos, ela professou sua fé por meio da Igreja
Adventista do Sétimo Dia. As dúvidas que haviam a
acompanhado até então deram lugar à certeza: tornou-
se ateia.


"Três dias antes de morrer, antes de ser entubada, ela
me disse 'e se existir alguma coisa depois [da morte],
afinal?'. Eu respondi dizendo que, caso houvesse algo,
ela voltasse para me avisar", diz o filho Edson Poletto
Porto, 51.


Aos 50 anos, Dinorah mudou radicalmente o rumo de
sua vida profissional e pessoal. Estudou psicologia e
passou a trabalhar como terapeuta, deixando a sala de
aula e os livros didáticos para trás.

Ela atendeu até os 80 anos em consultório próprio,
intercalando o trabalho com um ou dois meses por ano
ao lado do marido em Arraial d'Ajuda, local onde ele
manteve uma pousada por cerca de 25 anos e onde
viveu durante pelo menos quatro meses por ano.

A pousada do marido é um dos frutos da mudança de
vida que o casal teve. Ao perceber que havia se
conformado com uma vida de mãe e esposa, Dinorah
decidiu, nas palavras do filho, "adolescer".

O casamento, que passava por uma crise, ganhou
novos ares com as viagens recorrentes do casal à
Arraial d'Ajuda, na Bahia, onde "viveram sua própria
contracultura tardia".

O casal, já cinquentenário, decidiu experimentar drogas
e explorar o amor livre. "Isso os reaproximou. Foram
muito unidos até o fim da vida". O marido de Dinorah
morreu em dezembro de 2018.

Ela morreu no último dia 13 de abril, aos 84 anos, vítima
da Covid-19.

"Eu passei 11 anos morando no Brasil para ficar perto
deles. Me mudei para a Austrália depois da morte do
meu pai. Minha mãe chegou a passar um tempo comigo
lá e voltou para o Brasil duas semanas antes de a
pandemia ser declarada", diz Edson.

Em quarentena por dois anos, Dinorah usou o tempo
para escrever seu livro de memórias "Yá - O meu amor
me chamou" (Editora Clube dos Autores), em que narra
sua vida antes e depois das aventuras da sua segunda
adolescência.

"A minha mãe foi muito feminista na sua forma de viver.
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