Aventuras na História - Edição 228 (2022-05)

(EriveltonMoraes) #1

CAPA


O REGIME ENVIOU AO CAMPO 25 MIL MEMBROS
DOUTRINADOS PARA ENXERGAR O CAMPONÊS COMO
UM PEQUENO CAPITALISTA E INIMIGO DE CLASSE

cido (ed. Vide Editorial), publicada em 1985 e
posteriormente usada por uma comissão especial
criada pelo governo de Ronald Regan para inves-
tigar as atrocidades inf ligidas pelo governo sovi-
ético naquele período. “Junto com a política de
coletivização, Moscou havia iniciado em 1929 uma
campanha de larga escala contra qualquer coisa
que pudesse conferir à Ucrânia a identidade de
uma nação em separado, começando pela destrui-
ção das organizações científicas e culturais ucra-
nianas, e finalizando com a prisão, execução ou
banimento para campos de concentração de todos
aqueles que ousaram erguer suas vozes em defesa
da autodeterminação ucraniana”, ele escreveu.
Na visão de Liebel, as coisas se misturaram bas-
tante naquele período. Por um lado, havia em boa
parte da população ucraniana desconfiança em
relação à ideologia soviética, à origem urbana dos
organizadores, ao princípio econômico e, claro, ao
autoritarismo evidente na imposição relativa às
propriedades rurais. Por outro lado, o sentimento
nacionalista, como defende Dolot, contribuiu para
inf lamar a reação ao poderio russo. “A ideia da
nação ucraniana estava, sim, presente, e o nacio-
nalismo é uma ideologia ou um sentimento que é
reavivado sempre que uma crise se aproxima de
um Estado nacional”, avalia o docente.
Apesar da virulência russa, seria insustentável
para os planos de prosperidade da URSS manter
o celeiro do leste muito aquém de sua capacidade
produtiva. Por razões estratégicas, era preciso
reconsiderar o bloqueio ao sustento humano na
Ucrânia para que se pudesse contar com a mão de
obra campestre. Então, em maio de 1933, passou

a circular pelos gabinetes do regime soviético uma
diretriz que orientava os servidores do partido,
membros dos tribunais e procuradores a suspen-
derem o exílio em massa dos camponeses, além
de reduzirem o número de detenções e de presí-
dios, àquela altura, abarrotados de oponentes. O
objetivo era o de abrandar o regime rural dali por
diante. Como consequência, gradualmente, os
ucranianos foram deixando de perecer. “No fim
de maio de 1933, a fome amainou. Acabou a ina-
nição em massa. Verduras e frutas estavam dis-
poníveis em abundância para todos que fossem
capazes de sair e procurar por eles. Além disso, as
autoridades precisavam de trabalhadores para as
fazendas e elas não tinham outra escolha senão a
de fornecer aos membros que trabalhavam no
kolhosp rações alimentares suficientes para sus-
tentar sua existência”, recorda Dolot.
Segundo ele, esqueletos forrados com uma rés-
tia de pele se arrastavam até às fazendas coletivas
na tentativa de encontrar algo para comer: um
pedaço de pão e uma concha ou duas de trigo-
-sarraceno ou de papa de painço. Incapacitados
tinham de contar com a misericórdia de parentes
e amigos, pois não serviam mais ao trabalho braçal.
Embora a possibilidade de comer novamente fosse
animadora, ela também era traiçoeira. Organismos
debilitados ao extremo e “esquecidos” da função
digestiva podem tornar a ingestão de qualquer
alimento, mesmo que seja um vegetal fresco, fatal.
Foi o que se passou com muitos ucranianos.
Apesar de exaurido, Dolot conseguiu terminar
seus estudos numa vila vizinha, já que a escola de
sua comunidade fora fechada. E de lá fugiu.

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