Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-15)

(Antfer) #1

Ventos nórdicos


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
domingo, 15 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Desde o século 12, a Escandinávia vive uma relaçáo
conflituosa com o colosso eurasiano situado nas suas
fronteiras a leste, hoje materializado na Rússia de
Vladimir Putin.


Foram mais de dez guerras ao longo do período. Em
1809, os suecos foram obrigados a ceder o que hoje é a
Finlândia ao Império Russo, dando à luz a notória
neutralidade nórdica. Ela foi encorpada pela posição
finlandesa depois da Segunda Guerra Mundial (1939-
45), quando combateu a União Soviética em duas
ocasiões.


Helsinque protegeu sua soberania com o não
alinhamento militar. Com isso, ao lado da Suécia, o país
seguiu fora da Otan, a aliança militar criada pelos
Estados Unidos em 1949. Nas sete décadas até o dia
24 de fevereiro deste ano, quando Putin invadiu a
Ucrânia, o distanciamento foi conveniente.


Não que as duas nações fossem alheias ao Ocidente:
integram a União Européia desde 1994, o que indica de
que lado estão. Mas a guerra mudou tudo.


A Finlândia saiu na frente e, na quinta (12), declarou
querer fazer parte da Otan. No dia seguinte, a Suécia
divulgou um relatório em-basando a mesma iniciativa,
que deverá ser anunciada em breve.

Moscou protestou e sugeriu que responderá na mesma
moeda ao aumento de forças junto às suas fronteiras,
como reposicionamento de armas nucleares.

Isso traz riscos aos ocidentais, que têm agido dentro de
um limite ao armar os ueranianos sem se envolverem
diretamente no conflito. O caráter algo farsesco deste
arranjo traz o temor de uma Terceira Guerra Mundial,
atômica, devidamente insuflado pelo Kremlin.

Enquanto tal cenário permanece remoto, o Ocidente
segue escalando a tensão, apostando que Putin possa
curvar-se às dificuldades militares que enfrenta em
campo.

A expansão da Otan após o oca-so soviético de 1991 é
uma obsessão política da Rússia. Os EUA não foram
magnânimos ao vencer a Guerra Fria, e desde então o
cole-giado ganhou 14 países ex-comunistas. Nesse
sentido, um objetivo declarado por Moscou na guerra é
justamente evitar Kiev no clube.

O ressentimento russo é explicável, embora
desconsidere que antes era Moscou quem tinha aliados
armados na franja leste europeia.

Dessa maneira, a eventual adesão nórdica atesta uma
grande derrota estratégica de Putin. Ela ainda pode
passar por reveses, contudo.

A Turquia, membro rebelde da Otan que é próxima do
autocrata, já expressou reservas a Finlândia e Suécia.
Com poder de veto a novos sócios, como todos os 30
integrantes da aliança, o país deverá cobrar caro para
mudar de ideia.

Se Ancara ficar irredutível, o discurso de união contra o
Kremlin será duramente atingido.
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