Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-15)

(Antfer) #1

O golpe de Bolsonaro


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Ilustradíssima
domingo, 15 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Wilson Gomes


Golpe entrou no grupo, como diz o meme. Na verdade,
é um frequentador intermitente de nossas conversas e
pesadelos. Muitos analistas políticos, contudo, juram
que desta vez a coisa é para valer, que os maus
sentimentos são compartilhados por quem comanda
tropas e fala em nome delas.


O fato é que enquanto dois generais bolsonaristas -mais
bolsonaristas que generais-, Heleno e Ramos, oferecem
uma cara pública para mais uma rodada de ameaças e
intimidações a quem se atrever a contrariar o
presidente, a sedição antidemocrática se garante nos
porões, usando o jornalismo como pombo correio para
entregar ameaças, emitidas no conforto do off, sem que
passem pelos filtros da apuração dos fatos. Sai o
jornalismo de investigar fatos, entra o jornalismo de
repercutir e coletar declarações.


Mesmo antes que este governo existisse, fumos
golpistas exalavam das instituições militares, como no
famigerado tuíte do general Villas Bôas, de abril
de2018, usando o nome do Exército brasileiro em


evidente campanha para retirar o principal adversário no
caminho de Bolsonaro. O jornalismo que o repercutiu e
o STF como destinatário entenderam o rugido, a fera
parecia estar nos portões.

Desde então, houve tantas promessas de que o golpe
está vindo e já tem data e condições estipuladas ('voto
impresso e auditável'), seguidas de reiteradas negações
de intenções golpistas, que ninguém mais tem certeza
se o país ainda tem o direito de demitir o presidente nas
eleições de outubro, conforme o combinado.

Mas, há golpe e golpe. O governo Bolsonaro e os
generais seus acólitos jogam com os dois sentidos do
termo. Ameaçam um golpe em um sentido, a tomada
arbitrária do poder contra as regras do jogo
democrático, enquanto aplicam um golpe em outro
sentido, como tramoia, farsa, embuste, logro, fraude.

O golpe como engodo é uma obra-mestra de simulação
e dissimulação. É preciso simular ser muito maior e
mais ameaçador do que se é; a armação consiste em
vender a possibilidade de golpe como um desejo da
imensidão armada dos quartéis e não um truque de
alguns militares de alta patente, que encontraram na
simbiose com Bolsonaro uma maneira de enriquecer na
velhice.

E, se você tem vivido dias de angústia com relação ao
futuro da democracia, o golpe como fraude está
funcionando. O medo que nos leva a esperar, temer ou
tomar providências para evitar o golpe é parte do golpe.

Espera-se que o TSE ceda, novamente, ao temor de um
golpe e coloque mais cavalos de Troia, com generais na
bar riga, para dentro do processo eleitoral. Pretende-se
que o STF recue e pare de 'esticar a corda', quer dizer,
abstenha se de impor freios constitucionais aos apetites
absolutistas do bolsonarismo.

Deseja-se que os jornalistas continuem caindo na cilada
de todo dia telefonar para as suas fontes armadas para
repercutir declarações provenientes do Poder Judiciário
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