OUTUBRO | EDITORIAL
Salvar animais contando
as suas histórias
POR SUSAN GOLDBERG
JOEL SARTORE
COLE SARTORE
UM RATO-TOUPEIRA-AFRICANO foi o pri-
meiro modelo do fotógrafo Joel Sartore
em 2006 quando este imaginou o projecto
de fotografar animais em estúdio. O objec-
tivo singelo de então passava por captar
para a posteridade espécies que um dia
poderiam extinguir-se. Para reflectir o
propósito do projecto de preservação da
vida animal, Joel cunhou o nome de Photo
Ark [Arca fotográfica].
No momento em que estiver a ler estas
linhas, Joel já terá fotografado cerca de
dez mil animais. Tem planos para conti-
nuar até chegar aos 15 mil. Pode demorar
mais 10 ou 15 anos. Falámos com ele para
saber mais sobre o projecto que é alvo de
uma reportagem na edição deste mês.
Das espécies que já fotografou e que
entretanto se extinguiram, qual foi a mais
memorável?
Diria que a rã-arborícola de Rabbs (Ecno-
miohyla rabborum). Há alguns anos,
havia apenas um indivíduo vivo, um
macho, no Jardim Botânico de Atlanta.
Era adorável. Fotografei-o três vezes antes
da sua morte [em 2016]. Esses dias pare-
ceram-me épicos porque sabia que aquele
animal nunca mais regressaria. Em
momentos como esse, penso: “Não estra-
gues tudo. Pode ser a única oportunidade
de contar bem a história deste animal e
de a contar para sempre.”
Recorda alguma espécie que corresse
perigo quando a fotografou e que esteja
agora em recuperação?
O pardal-gafanhoto da Florida ainda não
está fora de perigo, mas está a recuperar.
Adoro essa espécie: é uma ave castanha
muito pequena. Um grupo de pessoas
mobilizou-se para tentar salvá-la. Há
muitas histórias de sucesso nos Estados
Unidos, como a do condor da Califórnia
e do grou-trompeteiro e, no Canadá, com
a marmota de Vancouver. Em alguns
desses exemplos, a espécie chegou a estar
reduzida a duas dezenas de indivíduos,
mas agora está a recuperar graças ao tra-
balho de quem se empenhou para prote-
ger os seus habitats e aos programas de
reprodução em cativeiro.
Que mensagem sobre fauna terrestre
quer transmitir ao público?
Um relatório intergovernamental recente
assegura que cerca de um milhão de espé-
cies já está em vias de extinção. É uma
loucura pensar que podemos aniquilar
tanta vida sem afectar a humanidade de
forma profunda e negativa. A maior ques-
tão do nosso tempo é esta: vamos acordar
e agir ou vamos continuar a caminhar com
os olhos cravados nos ecrãs dos nossos
telefones enquanto caminhamos para o
desastre? O meu objectivo é gerar preocu-
pação no público, levá-lo a interessar-se
pela crise global de extinção enquanto
ainda há tempo para salvar o planeta e
tudo o que aqui vive. j
Joel Sartore, fellow da National
Geographic, e um serval fitam-se
durante uma sessão fotográfica
no Lincoln Children’s Zoo do
Nebraska (EUA). O serval
é o único membro sobrevivente
do género Leptailurus. É raro no
Norte de África e no Sael, mas,
em regiões da África subsaariana,
tem uma distribuição mais vasta.
A primeira volta ao mundo
No melhor pano, cai a nódoa
e, por vezes, a nódoa fica
mesmo à vista de todos.
Os leitores detectaram
seguramente a arreliadora
gralha na primeira página da
última edição. Onde deveria
estar "primeira volta ao
mundo", ficou indesculpavel-
mente "primera volta ao
mundo". Aos leitores,
as nossas desculpas.