National Geographic - Portugal - Edição 223 (2019-10)

(Antfer) #1
GIRAFAS 55

O veterinário carregou a sua arma de dardos
com uma dose de etorfina, um opióide cerca de
seis mil vezes mais potente do que a morfina.
Depois de o dardo penetrar na pele da girafa,
Pete e a sua equipa têm poucos minutos para
perseguir o animal, capturá-lo e injectar-lhe um
antídoto no pescoço para impedi-lo de morrer.
Se for capturada com sucesso e sobreviver à via-
gem de 800 quilómetros através do
Níger, a girafa tornar-se-á uma de
oito “Adões” e “Evas” fundadores de
uma nova população dos animais
selvagens mais raros do mundo.


AS GIRAFAS que perseguimos há uma
semana descendem de cerca de cin-
quenta animais que chegaram ao
Níger, na África Ocidental, no fim da
década de 1980, quando a seca e a
guerra as obrigaram a sair do seu


habitat, no Mali. Caminharam para sul-sudeste,
atravessando o Sael, acompanharam o curso do rio
Níger e contornaram Niamey antes de se instalarem
na região de Koure, num planalto seco e poeirento.
Amadou Hama, um pastor de 76 anos, recorda
o dia em que encontrou pela primeira vez uma
destas girafas enquanto apascentava o seu reba-
nho. “Pensámos que era o diabo por causa daque-
le pescoço e daqueles cornos. Sem-
pre ouvi falar de animais perigosos,
como os leões, mas ninguém me des-
crevera uma girafa. Ficámos assusta-
dos. Até as vacas se assustaram.”
Estes gigantes recém-chegados
foram os últimos sobreviventes de
uma população outrora numerosa
de “girafas brancas”, cujo território
se estendia por toda a África Oci-
dental no início do século XX – da
costa do Senegal à Nigéria.

Tendo por enquadra-
mento a linha do
horizonte de Nairobi,
estas girafas vagueiam
pelo Parque Nacional de
Nairobi, a seis quilóme-
tros do centro da extensa
capital do Quénia. Mais
de cem espécies de
mamíferos vivem no
parque de 117 quilóme-
tros quadrados, mas o
crescimento de Nairobi
ameaça este habitat.

PARAS CHANDARIA
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