Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-24)

(Antfer) #1

Faltar à Cúpula das Américas seria erro para Bolsonaro


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Opinião
terça-feira, 24 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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A Cúpula das Américas, marcada para o início de junho
em Los Angeles, seria uma excelente oportunidade para
o presidente Jair Bolsonaro reduzir o isolamento que
sua política externa impôs ao Brasil. Até o momento ele
não informou ao Itamaraty se pretende ir. Parece
preferir evitar passar mais uma vergonha internacional
às vésperas da campanha eleitoral. Deixar de ir seria
um erro.


Na cúpula, Bolsonaro teria uma chance de encontrar o
anfitrião Joe Biden e, pelo menos, tentar atenuar
atrapalhada que cometeu ao demorar a reconhecer a
vitória dele nas eleições de 2020 sobre Donald Trump.
Os profissionais do Itamaraty e do Departamento de
Estado saberiam conduzir o aperto de mão sem
constrangimento a nenhuma das partes. Bastaria
Bolsonaro ter vontade de fazer o gesto, que é do
interesse do Brasil.


Infelizmente, o histórico diplomático de Bolsonaro não é
animador. Sua política externa é ditada por afinidades
ideológicas e pelas fabulações de youtubers e tuiteiros
que se consideram em guerra contra um certo
'globalismo'. O último de seus tropeços foi voar a


Moscou para se declarar 'solidário' a Vladimir Putin,
quando os tanques russos já se preparavam para
invadir a Ucrânia. Depois foi árduo o trabalho do
Itamaraty para buscar um ponto de equilíbrio entre as
catástrofes da diplomacia bolsonarista e as posições
históricas do Brasil contra agressões à soberania de
qualquer país.

A presença de Bolsonaro em Los Angeles também
poderia servir para mitigar os danos causados à
imagem brasileira pela política ambiental de seu
governo e pelo discurso ideológico, capaz de isolar o
Brasil até no próprio continente. Quando Alberto
Fernández assumiu a Presidência da Argentina, em
2019, o Itamaraty também teve de se esforçar para
estabelecer alguma relação entre os dois, apesar de as
economias brasileira e argentina estarem
indissoluvelmente imbricadas.

Não há maior prova dos prejuízos trazidos pela visão
ideológica da diplomacia bolsonarista do que o desdém
que o Planalto parece ter pelo acordo comercial fechado
entre o Mercosul e a União Europeia depois de dez
anos de negociações. Uma vez em vigor, seria o maior
tratado delivre-comércio de que o Brasil faria parte. Isso
exigiria relações fluidas com adversários ideológicos
como o argentino Fernández ou o francês Emmanuel
Macron. Mas Bolsonaro é incapaz de pôr o interesse
nacional na frente de suas idiossincrasias. Em suas
ridículas investidas internacionais, prefere encenar
rapapés a autocratas como Putin ou o húngaro Viktor
Orbán.

Os Estados Unidos não convidaram para a Cúpula das
Américas três ditaduras, todas de esquerda: Cuba,
Venezuela e Nicarágua. Em protesto, o México de
Andrés Manuel López Obrador e a Argentina de
Fernández pensaram em não comparecer. Ainda que
por motivação ideológica, Bolsonaro, como opositor das
três, poderia ver na atitude americana mais um motivo
para confirmar sua presença. Espera-se que decida ir,
pois nada justifica a ausência do maior país da América
do Sul.
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