Significância estatística
Banco Central do Brasil
Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
quarta-feira, 25 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Deirdre McCloskey
Se você prometer que não vai espalhar para todo
mundo, vou contar um segredo sobre uma das técnicas
principais usadas na ciência econômica moderna, o
"teste estatístico de significância". Esse teste é usado
em boa parte da ciência econômica, finanças,
sociologia, psicologia e medicina modernas.
É difícil explicar. Em 1966, quando eu estava fazendo
um exame oral no curso de pós-graduação em Harvard,
me pediram para explicar. Não consegui. Eu já havia
feito três cursos de econometria e dominado provas
impressionantes de todos os tipos. Mas errei as balizas
do gol por uns três metros.
Deixe-me tentar.
Não podemos perguntar a cada brasileira, todos os
meses, se ela está empregada ou não. Custaria muito
caro. Então fazemos a pergunta a uma amostra
aleatória de brasileiros, possivelmente mil, e aplicamos
o resultado à nação. Para uma pessoa não quantitativa,
isso já soa absurdo. Mas eu fiz três semestres de
economia e adoro números, de qualquer maneira.
Será que a estimativa é correta? O economista do
Ministério do Trabalho responde: "É claro que sim. O
tamanho da amostra é mil, então há uma probabilidade
baixíssima de a estimativa estar muito errada em função
de erro de amostragem". E então ele conclui com um
sorrisinho satisfeito: "A estimativa é estatisticamente
significativa".
Deixemos de lado certas preocupações quantitativas
avançadas sobre se a amostra é de fato aleatória ou se
erros de arredondamento nos programas de
computador estão rendendo resultados incorretos. O
problema fundamental é que o economista pensa que
esse cálculo indica que a taxa de desemprego é
importante, que ela tem importância. Entretanto, a
precisão, nesse sentido estrito do termo, não significa
nada desse tipo.
Para que algo seja importante, para que faça diferença,
precisamos responder à pergunta filosófica sobre o que
significa o desemprego e qual dimensão do desemprego
o levaria a ter importância.
Sim, eu sei. É difícil de entender. Tão difícil que a
ciência econômica e a medicina estatística não
entendem.
Mais uma tentativa e então deixarei a seu cargo
pesquisar a "controvérsia do teste da significância" na
estatística econômica e médica. Faça um Google por
David Rothman ou Stephen Ziliak, por exemplo.
Você me pergunta se está um dia bonito em Chicago.
Eu respondo: "Seis". Você diz: "O que isso quer dizer?".
Eu respondo, irritada: "Como assim, 'o que quer dizer'. É
seis. Você não acredita em números?".
Os números, assim como as palavras, não encerram um
significado próprio. Pesquisadores econômicos e
médicos pensam que sim. É um desastre científico.