MÍRIAM LEITÃO - A terça de sangue do Rio ao Texas
Banco Central do Brasil
Jornal O Globo/Nacional - Economia
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: MÍRIAM LEITÃO
A terça-feira sangrenta que deixou mortos no Rio e no
Texas tem eventos de natureza diferente e um ponto em
comum: o uso descontrolado de armas. Os Estados
Unidos têm tradição de facilitar o acesso à posse e ao
porte de armas e há anos colhem tragédias como a
desta semana em que morreram 21 pessoas numa
escola, quase todas crianças. No Rio, a Polícia Militar
foi à Vila Cruzeiro e deixou 25 mortos. Alega que são
criminosos, como se isso justificasse a execução. Mas a
própria PM admite que eles estão com armas cada vez
mais pesadas. E por que estão? Porque está cada vez
mais fácil comprar armas, munições e acessórios que
antes tinham uso restrito e eram controlados pelo
Exército.
No programa desta quarta-feira na Globonews o
assunto foi a violência política e a política de liberação
das armas. Entrevistei a deputada federal Talíria
Petrone (PSOL-RJ), que vive desde 2019 sob escolta
policial depois de ataques e ameaças de morte.
Entrevistei também Michele dos Ramos, assessora
especial do Instituto Igarapé nessa questão.
Talíria disse que nunca teve paz desde que entrou para
a política. Enfrentou de xingamentos nas redes sociais a
telefonemas para o partido, dirigidos a ela, hostilidade
na rua e ameaças de morte. A pior foi revelada em uma
investigação na rede subterrânea de computadores.
- Quando a Polícia Federal interceptou um possível
plano na deep web para me executar, foi um susto. Mas
a gente tem que entender, no contexto do crescimento
dos grupos de ódio, o que é ser uma mulher negra num
espaço em que o nosso corpo é estranho. Isso gera
incômodo. Há mais de 500 grupos de extrema-direita,
supremacistas brancos, organizados pelo ódio e
legitimados pela atual política - disse.
Michele, especialista no tema da violência e das armas,
vê o agravamento do problema.
- A gente chega a 2022 com o Brasil muito mais
armado. Ao longo desses anos foram mais de 30
medidas do governo federal que ampliaram o acesso à
grande quantidade de armas e munições. E não houve
aumento do controle do Estado sobre esse arsenal.
Pelo contrário. O que dá uma combinação explosiva são
as sucessivas declarações de lideranças apontando o
armamento da população como uma solução para os
problemas da democracia. Isso vai na contramão. A
democracia não é a lei do mais forte, muito menos do
mais armado -disse Michele dos Ramos.
Nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden, diante das
crianças mortas, se perguntou até quando o país vai
aceitar o lobby das armas. Aqui o governo está cada
vez mais unindo-se ao lobby das armas para atemorizar
adversários políticos. À história dos Estados Unidos é
trágica. A nossa, também. O Brasil, em vez de uma
política de segurança, tem colecionado massacres e
chacinas. O tenente coronel Ivan Bláz, porta-voz da
Polícia Militar, lamentou o que chamou de 'uso
indiscriminado de fuzis por parte dos marginais'. Mas
esse é o ponto. Ficou muito mais fácil para grupos
criminosos o acesso a armamento pesado após as