Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-26)

(Antfer) #1

Barreiras na terceira via


Banco Central do Brasil

Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 26 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Maria Hermínia Tavares


A renúncia de João Doria à candidatura presidencial é
um marco na irresistível caminhada do PSDB rumo à
irrelevância. Pela primeira vez desde a sua fundação,
há 34 anos, a sigla não terá candidato ao Planalto.
Exibe assim seu fracasso em recuperar o que perdera
em 2018: a capacidade de aglutinar e representar o
antipetismo no plano nacional.


Hoje está claro que o terremoto político que desalojou
Dilma Rousseff do Planalto não destruiu a liderança do
PT entre as forças situadas do centro para a esquerda
do espectro político. Antes, desorganizou o jogo de
poder no terreno adversário, abrindo espaço para a
vitória eleitoral e a afirmação política da barbárie
populista.


Na realidade, a movimentação da chamada terceira via
faz parte da disputa para reorganizar o congestionado
território que vai do centro à ultradireita, por meio da
criação de uma liderança nacional distinta do
extremismo autoritário encarnado por Jair Bolsonaro.
Analistas respeitáveis acreditam que a desistência do


ex-governador de São Paulo abre brecha promissora
para uma candidatura que concorra com o ex-capitão
pelos votos de quem não quer o PT de volta.

Pesquisas de opinião indicam que, entre os
bolsonaristas fiéis e aqueles que gostariam de levar
Lula de novo ao Planalto, existem eleitores que rejeitam
o presidente e o antagonista. Mas o que os números
afirmam, a experiência passada parece negar.

O professor Fernando Limongi, da Fundação Getúlio
Vargas em São Paulo, argumenta que, embora em toda
eleição o desfecho seja incerto, as regras da disputa
presidencial geram um padrão discernível. Desde 1994,
a competição se dá entre dois grandes blocos, opondo
esquerdas e direitas, com escasso espaço para uma
terceira candidatura.

Orientados pelas pesquisas, partidos e eleitores fazem
voto útil já na primeira rodada, de tal forma que a
seguinte, quando ocorre, apenas confirma o resultado
anterior.

Neste ano, as condições são especialmente difíceis
para candidatos apropriadamente apelidados "nem-
nem". Pela primeira vez estarão na arena um presidente
que aspira à reeleição, com a caneta e outros recursos
à disposição dos mandatários, e um ex-presidente que
participou de seis das oito corridas do gênero, ganhou
duas e deixou o cargo aprovado por inéditos 87% dos
cidadãos. É pouco provável que esse quadro se altere
até outubro.

Os resultados para os governos estaduais e as câmaras
legislativas definirão o porte das direitas não
bolsonaristas.

Para o bem da democracia, tomara que não sejam
eclipsadas pelo que há de mais brutal e primitivo na
política brasileira.

COLUNISTAS
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