Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-27)

(Antfer) #1

CIÊNCIA - O cérebro tem um banco de reservas


Banco Central do Brasil

Jornal O Globo/Nacional - Saúde
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Roberto Lent


Até hoje não se tem uma explicação convincente para o
fato de que algumas pessoas apresentam sintomas
precoces da doença de Alzheimer, enquanto outras
vivem mais de um século com a mente em plena forma.
A memória de Oscar Niemeyer não nos deixa esquecer
esse fato. Nem a rainha Elizabeth. Outras pessoas
sofrem perdas cognitivas precoces, e às vezes
permanecem muitos anos sem autonomia para usufruir
das oportunidades interativas e culturais que a vida
oferece. A que se deve essa diversidade cognitiva da
longevidade?


Os psicólogos criaram um conceito muito bem aceito
para explicar o fenômeno. Reserva cognitiva. Seria um
acervo de capacidades não plenamente utilizadas ao
longo da vida, mas acionadas à medida que a vida
longa vai impondo perdas. A diferença entre as pessoas
seria a reserva cognitiva. Alguns atêm abundante e
generosa, outros a usam por completo durante a vida
adulta, e a um certo ponto não têm mais a que recorrer
para resistir aos custos do envelhecimento. Tudo bem.
Mas como se poderia explicar a questão, pensando na


infraestrutura neurobiológica do cérebro? Os longevos
com plena capacidade mental teriam mais neurônios?
Ou seus neurônios formariam mais sinapses (os pontos
de comunicação entre eles)? Ou ainda, haveria circuitos
de reserva no cérebro, para utilização eventual quando
fosse necessário? A questão está em aberto, e produz
muito interesse entre os neurocientistas, inclusive este
que vos fala, que há alguns anos aborda algumas
dessas possibilidades junto com seu grupo de pesquisa
na UFRJ e no IDOR.

Usando cérebros humanos doados ao Biobanco da
Universidade de São Paulo, pudemos determinar o
número absoluto de neurônios do cérebro adulto como
um todo, e de regiões mais específicas separadas por
dissecção. Constatamos que, na verdade, a quantidade
total é 15% menor que aquele número redondo que
costumávamos adotar, equivocadamente: cem bilhões.
Depois interrogamos se esse número muda com o
envelhecimento, e se muda mais em pessoas com
perda cognitiva severa. Os dados mais recentes
mostraram que, pelo menos no córtex cerebral, a
quantidade de neurônios que temos não muda
significativamente entre 20 e 90 anos, quando
consideramos as pessoas sem perda cognitiva. Mas a
avaliação feita em cérebros de pessoas de menciadas
mostrou uma redução importante no córtex e em outras
regiões. Só que essa constatação não responde à
pergunta que fizemos. Dentre os neurônios dos idosos
sadios, haveria um banco de reservas, como no futebol?
Seriam eles os responsáveis pela tal reserva cognitiva?
E caso sim, de que modo atuariam?

Outra abordagem foi tentada usando técnicas de
neuroimagem em humanos, e experimentos anatômicos
em macacos e camundongos. Essa parte foi feita em
colaboração com a Universidade de Pittsburgh, nos
EUA. A descoberta mais interessante foi que humanos e
animais apresentam uma conectividade mais numerosa
e elaborada do que pensávamos (carinhosamente
chamadas de 'circuitos secretos' do cérebro). Esses
circuitos pouco evidentes no cérebro normal aparecem
com mais força quando ocorrem acidentes no
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