Reinaldo Azevedo - O Datafolha e a câmara de gás
Banco Central do Brasil
Jornal Folha de S. Paulo/Nacional - Política
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Davos
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Autor: Reinaldo Azevedo
Não temam tanto um autogolpe de Jair Bolsonaro caso
ele perca a eleição no primeiro turno ou no segundo. A
democracia será golpeada se ele vencer, o que é
possível, embora pareça improvável, como revelam
números do Datafolha.
S ea eleição fosse hoje, Lulateria 54% dos votos válidos
no cenário mais provável, não precisando ir para o
embate final. O petista tem 48%das intenções de voto e
é rejeitado por 33% apenas. Votariam no atual
presidente 27%, es4%o rejeitam. Nota: a eleição não é
hoje.
Por mais que Bolsonaro vocifere, não é a derrota que o
tor na especialmente perigoso. A
exemplo de todo autoritário, a vitória lhe assanharia
ainda mais a sede de mando. Um golpe da derrocada já
nasceria sob o símbolo da farsa.
Já a vertigem da vitória teria mais chance de arrastar
aventureiros. Essa é não mais do que uma constatação,
não um convite para uma causa. Não tenho argumentos
para a neutralidade diante de um massacre ou da
câmara de gás.
Assim, o jacobinismo nem nem não se sinta atingido,
dispensando-se de elevar o sarrafo do estilo furibundo.
Afinal, a democracia ou é valor inegociável ou nunca
será, e um meio-covarde sempre valerá
por um covarde inteiro.
De resto, na ordem das coisas, a grandiloquência
independentista, acompanhada da retórica virulenta,
costuma ser inversamente proporcional à importância
do grandiloquente. Causa mais tédio do que indignação.
Ninguém reivindique o privilégio da citação encoberta. A
exemplo de Gil Vicente, falo com as personagens 'Todo
Mundo' e 'Ninguém"
Uma quartelada da derrota duraria quanto tempo? É
verdade: eles têm tanques, e a gente não. Eles podem
fechar o Congresso e o Supremo, mas não podemos
fechar os quartéis. Quanto tempo duraria a aventura?
Há bananas de sobra no país, muito especialmente os
de pijama, mas não somos uma republiqueta bananeira.
Dar golpe é bem fácil; sustentá-lo é que é o xis do
problema.
E se Bolsonaro vencesse? AÍ todas as musas seriam
antigas para cantar o desastre. Haveria o esforço, com
razoável chance de sucesso, de transformar em matéria
também de direito aquilo que é hoje corrosão de fato da
institucionalidade democrática, mas não ainda em letra
impressa.
Seria inútil apostar na resistência do Congresso porque
ele não será muito diferente deste que aí está. O
comportamento
do Legislativo espelha, em grande parte, as escolhas do
Executivo, e sabemos com quantas emendas secretas
se conquistam as maiorias no Parlamento, que