Clipping Jornais - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1

O sistema político gera representação muito fragmentada'


Banco Central do Brasil

Jornal O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia &
Negócios
sábado, 28 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Ministério da Fazenda

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Autor: VINICIUS NEDER


A fragmentação do sistema político brasileiro e a
elevada desigualdade entre os grupos sociais são os
principais fatores por trás da crônica dificuldade de
desenhar boas políticas públicas no País, avalia o
economista Marcos Mendes, professor do Insper. Ele
destaca a importância de se avaliar as políticas
públicas, para aprender com seus erros. Esse é o
espírito do livro Para não esquecer: políticas públicas
que empobrecem o Brasil, que será lançado na
segunda-feira. A seguir, os principais trechos da
entrevista:


Qual o principal fator por trás da baixa qualidade das
políticas públicas?


Temos um sistema político eleitoral que gera uma
representação muito fragmentada. Temos não apenas
20 e tantos partidos no Congresso como, dentro dos
partidos, temos interesses pulverizados. Muitas vezes
os parlamentares respondem mais ao interesse de
grupos específicos do que ao interesse de uma
programação político-partidária. Então, no Congresso,


acabam sendo defendidos não os interesses da
coletividade, mas os interesses daquele grupo que o
parlamentar defende. E aí não estão preocupados se
aqueles interesses vão gerar custos muito mais altos do
que os benefícios que estão sendo gerados.

O jogo de interesses não faz parte dos sistemas
democráticos?

Interesses existem em todas as sociedades, mas é
preciso ter instituições políticas e eleitorais que filtrem
esses interesses e joguem luz sobre eles.

Há alguma outra particularidade no jogo de interesses
no sistema político brasileiro?

A desigualdade. Quando temos uma sociedade muito
desigual, o que o pobre quer é muito diferente do que o
rico quer, e do que a classe média quer. Pobre quer
assistência social, ajuda, emprego. O rico quer
subsídios para suas empresas. A classe média quer
emprego público bem remunerado, universidade pública
gratuita. Quando a sociedade é mais homogênea, todo
mundo quer mais ou menos a mesma coisa.

Há soluções de curto prazo para o problema?

Temos várias pequenas políticas públicas que, se forem
feitas com razoável eficiência, vão melhorando as
coisas. Por exemplo, o governo acabou de multiplicar
quase por três o Bolsa Família criando o Auxilio Brasil.
Só que triplicamos com um desenho ruim. Ao mesmo
tempo, não investimos no coração do programa de
transferência, que é o Cadastro Único.

O Bolsa Família é o caso de uma política pública bem
avaliada, mas que foi descontinuada?

Estamos piorando uma política bem desenhada. Há
casos em que aprendemos como os erros, mas há
casos de boas políticas que vão se deteriorando. É
muito fácil uma bandeira eleitoral de R$ 400 para cada
família, mas, na prática, estamos perdendo o foco da
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