Banco Central do Brasil
Revista Isto é/Nacional - Brasil
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - Davos
Não fosse pelo agronegócio, que ainda é relevante no
cenário internacional, o Brasil teria passado à margem
do encontro. Isso se mantém mesmo com a habitual
falta de comprometimento de Bolsonaro. De acordo com
um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), o agronegócio do Brasil
alimenta cerca de 800 milhões de pessoas no planeta, o
equivalente a 10% da população mundial, e esse
potencial é o que mantém o País em destaque na
economia mundial, que assiste à redução das safras e
ao aumento desregrado da inflação mundial. “O Brasil
perdeu espaço, não relevância”, explicou o ex-
embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Rubens
Barbosa. “Além de deixar de comparecer a Davos,
Bolsonaro, que já não foi a outras várias reuniões
internacionais, agora ameaçou não ir à Cúpula das
Américas, confirmando presença na última hora. Com a
ausência do presidente nas reuniões mais importantes,
o Brasil perde, porque a autoridade que vai no lugar
dele não tem o mesmo peso do presidente”.
Além de não se fazer presente nos fóruns internacionais
e da perda de interlocução com as principais lideranças
globais, há ainda uma dissonância entre o que o
presidente diz e a posição do Itamaraty. Em 2019, em
Davos, Bolsonaro prometeu “compatibilização entre a
preservação do meio ambiente e da biodiversidade com
o necessário desenvolvimento econômico”, mas a
promessa se perdeu em meio à fumaça das queimadas
que revelou seu desprezo pelas questões ambientais.
Agora, o Itamaraty tenta reinserir o Brasil nesse debate.
No caso da guerra na Ucrânia, Bolsonaro se solidarizou
com a Rússia, o que significa dizer que ele apoia, por
linhas tortas, a invasão da Ucrânia, embora na ONU o
Brasil tenha votado contra as ações agressivas da
Rússia. O que o presidente fala, portanto, já não é mais
levado em consideração pelos outros países.
Mas se o Brasil não tem um rosto para mostrar ao
mundo, a Ucrânia tem. O Fórum Econômico Mundial de
Davos voltou a ser realizado após dois anos de
interrupção em decorrência da pandemia de Covid-19,
com foco nas consequências da guerra na Ucrânia e
nos temores de uma desaceleração do crescimento
global. O presidente russo, Vladimir Putin, foi excluído
do evento por causa da invasão à Ucrânia. O presidente
ucraniano, Volodymyr Zelensky, sabe como poucos
aproveitar os espaços, e não foi diferente em Davos.
Ele discursou por quase 30 minutos e pediu mais
sanções contra a Rússia e envio de mais armas para
seu país. Defendeu especificamente o embargo ao
petróleo russo e o bloqueio de todos os bancos russos,
sugerindo o aumento da pressão dos participantes do
fórum sobre governos e empresas de seus países para
que adotem sanções contra os russos para tentar evitar
o acirramento do conflito, que já dura três meses. “Sou
grato ao mundo. Não percam esse sentimento de
unidade. Espero que cada um de vocês consiga acordar
no dia seguinte se perguntando ‘o que posso fazer pela
Ucrânia hoje?’”. Zelensky foi ovacionado por dois
minutos por uma plateia lotada. Essa é a diferença de
um líder que luta pelo seu país e por outros que se
escondem debaixo de sua incompetência.
Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
Davos, Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes