Clipping Revistas - Banco Central (2022-05-28)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Veja/Nacional - Brasil
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Banco Central - Perfil 1 - IPCA

produtos e serviços essenciais com impacto maior no
orçamento familiar. Em doze meses, a alimentação em
casa, a gasolina, o botijão de gás e a energia
residencial subiram, respectivamente, 16,12%, 31,22%,
32,34% e 20,52%. Esses números assombram o
candidato à reeleição, que recorreu à caneta
presidencial para reagir. Nos últimos dias, Bolsonaro
reduziu pela segunda vez em 10% os impostos de
importação sobre itens como feijão, carne, massas,
biscoitos e arroz. Com o apoio do comandante da
Câmara, Arthur Lira, expoente do Centrão e seu aliado,
o presidente também tenta aprovar um projeto que
reduz o ICMS de energia e combustíveis — e que,
segundo projeções de sua equipe econômica, pode
diminuir em pouco mais de 1 ponto porcentual a taxa de
inflação. O projeto já recebeu o aval dos deputados e
seguiu para a análise dos senadores.


Os combustíveis são um capítulo importante nesse jogo.
Depois de declarar numa de suas lives que o lucro da
Petrobras era um “estupro”, Bolsonaro anunciou a
segunda troca do presidente da companhia em menos
de dois meses (leia reportagem na pág. 48). Antes, já
havia substituído o ministro de Minas e Energia. Com as
mudanças, ele quer que a Petrobras segure os
reajustes dos combustíveis até a eleição ou, pelo
menos, dê mais espaço de tempo entre os aumentos de
preço. Se esse objetivo não for alcançado, Bolsonaro
argumentará que fez de tudo para baratear a gasolina,
mas que o “sistema” — sempre ele — não permitiu.
Essa alegação tem sido constante e está surtindo efeito.
Segundo pesquisa XP/Ipespe divulgada no último dia
20, quase dois terços dos entrevistados endossam as
críticas do presidente à Petrobras e afirmam que a
empresa tem “muita responsabilidade” pelo aumento
dos combustíveis. A mesma sondagem revelou, no
entanto, que para 72% os preços no geral “aumentaram
muito” nos últimos meses — e para 41% ainda “vão
aumentar muito”. Líder em intenções de voto, Lula tem
explorado esses dados para assombrar a campanha do
adversário.


A ordem na coordenação petista é delimitar o debate à


questão econômica e à carestia generalizada. Nada de
perder tempo com pautas de costume e embates
ideológicos. “Para o povo brasileiro, o preço da gasolina
a 8 reais, o diesel a 7 reais, o gás a 150 reais, 140 reais,
130 reais. E para os acionistas estrangeiros, o lucro. Um
governo totalmente irresponsável, não tem nenhuma
preocupação com o povo brasileiro”, disse numa
entrevista o ex-presidente, que não esconde de
ninguém a intenção de interferir na política de preços da
Petrobras. Nas redes sociais, arena em que os petistas
querem reduzir a desvantagem para os bolsonaristas,
Lula também vem insistindo na tese de que, em seus
governos, o poder de compra era bem maior. Numa das
mensagens postadas, ele diz que o salário mínimo teve
aumento real de 57,8% entre 2003 e 2010, quando
governou o país, enquanto na gestão Bolsonaro houve
uma queda de 1,77%. Na comparação, Lula não incluiu
os dados relativos aos mandatos de Dilma Rousseff,
que deixou como legado a maior recessão de nossa
história. A resposta dos bolsonaristas é quase sempre a
mesma: repetir que a inflação é um fenômeno global.

De fato, esse não é um problema só do Brasil. Um
relatório distribuído no Fórum Econômico Mundial
alertou para a possibilidade de uma escalada de preços
na América Latina e nos Estados Unidos. O problema é
que para Bolsonaro não basta ter um argumento
pertinente ou razoável. Sua prioridade não é ganhar o
debate, mas vencer a eleição. Para ter chances nas
urnas, ele precisará baratear (ou manter) os atuais
custos de alimentação, energia e combustíveis. Até
aqui, não tem conseguido e, por isso, tem sido
aconselhado a adotar toda sorte de medidas
heterodoxas, como subsídios oficiais e
intervencionismos artificiais nos preços, ações que
podem até ter um efeito positivo momentâneo, mas
certamente deixarão para o vencedor do pleito uma
bomba de efeito retardado. Enquanto não domina a
inflação, o presidente aposta na estratégia diversionista
de atacar o Tribunal Superior Eleitoral, o ministro
Alexandre de Moraes, o comunismo e o PT. A cor
vermelha, de fato, é uma ameaça à reeleição — não a
das bandeiras partidárias, mas a do singelo tomate, que
encareceu mais de 100% em um ano.
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