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Revista Exame/Nacional - Casual
terça-feira, 24 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
literatura brasileira para o sérvio
O hábito da leitura sempre fez parte da vida de Tijana
Jankovic, CEO da Rappi no Brasil. Durante a infância
em Belgrado, na Sérvia, ela não tinha o costume de
assistir à televisão, e sim o de mergulhar em livros de
séries infantis.
O comportamento vem de gerações. A avó paterna era
tradutora de livros do francês para o sérvio. “Tive muitas
conversas com ela e sei que a tradução não é só uma
técnica, mas uma arte, pois os tradutores têm um pouco
de escritor também”, comenta a empresária, que diz ter
preferência pela leitura de romances no idioma original.
Já o pai possui há mais de 30 anos uma editora no país
do Leste Europeu. “Cresci no meio dos livros e em
várias línguas”, lembra Jankovic, sobre publicações
suecas que bisbilhotava quando pequena.
Sérvio, italiano, francês, inglês, português e um pouco
de espanhol são os idiomas que Jankovic domina e que
aprimorou por meio da literatura. Na adolescência, ela
se mudou para Milão para cursar economia. Para se
preparar para morar no novo país, além de fazer aulas
de italiano, leu e releu livros até que conseguisse
entender o conteúdo. Hoje em dia, conserva o hábito da
leitura para manter a fluência nas línguas. “Eu trabalhei
em uma empresa francesa por muito tempo, então
usava o francês no dia a dia de trabalho. Mas aqui no
Brasil não uso mais.”
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Já o português, falado com diversas gírias e quase sem
sotaque, foi aprendido ao longo dos nove anos de
residência no Brasil. “Não se pode viver aqui só falando
inglês. Depois de dois anos morando no Brasil, entendi
que ficaria estagnada com o idioma, a menos que eu
fizesse alguma coisa.” Foi então que Jankovic buscou
os clássicos brasileiros para aperfeiçoar o português,
enriquecer o vocabulário e entender melhor a nova
cultura em que estava inserida. Começou por Vidas
Secas, de Graciliano Ramos, e as obras de Jorge
Amado.
“O país tem uma cultura que vem de uma história muito
peculiar. É praticamente impossível para quem é de fora
e não cresceu aqui olhar só o Brasil contemporâneo e
entender de onde vêm certos hábitos, do passado
colonial, da escravidão. É preciso olhar para trás e
começar a juntar a origem das coisas”, diz.
Sua rotina de leitura mudou nos últimos meses. Com o
nascimento da segunda filha, Íris, em janeiro, Jankovic
começou a ouvir audiobooks nos momentos em que
amamenta. “Acho que passo de 7 a 8 horas por dia
amamentando, então dá para ouvir as histórias com o
fone, é perfeito. Acredito que tenha zerado uns cinco
livros”, diz a empresária, que ainda prefere ler a escutar
as histórias. “Na minha visão, pela entonação que os
narradores usam, há um pouquinho menos de espaço
para a própria imaginação, os personagens já ficam um
pouco mais definidos.” Durante a licença-maternidade
ela costuma passear na Livraria da Vila com a filha no
canguru. “Enquanto ela dorme, vou fazendo a lista dos
próximos livros, e também tento ler um pouco.”
Já com a filha mais velha, Teresa, de 3 anos, há uma
regra em casa: ler antes de dormir. Jankovic reveza a
tarefa com o marido brasileiro: ele fica encarregado de
ler os livros em português; e ela, em sérvio. “Só que, às
vezes, minha filha acaba escolhendo algum livro em
português, e nesse caso eu faço tradução simultânea”,
conta, rindo. Na pequena biblioteca da filha estão três
livros escritos pelo avô, com histórias baseadas na
experiência dele com as netas.
O hobby contemplativo contrasta com o dia a dia na
Rappi. Em abril, a startup colombiana começou a aceitar
criptomoe 0das como forma de pagamento para
entregas no México e passou a adotar medidas para