ARTIGO - Racismo e a política de inimizade
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Revista Isto é/Nacional - Artigos
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Rosane Borges
Ganha vulto espantoso os crimes cometidos em nome
da raça nesta quadra da nossa história, no desenrolar
sinuoso do século 21, caso não coloquemos em dúvida
que fomos teletransportados para tempos pretéritos,
não pelo metaverso, mas pela incúria maldosa
bolsonarista.
O filósofo Gilles Deleuze costumava dizer que “a raça é
motivo de delírio em quase todo o tempo e lugar”.
Podemos dizer que o delírio criminoso do momento tem
nome: “teoria da substituição” ou a “grande substituição”
- ideia racista que ganha materialidade cotidiana em
atos de extrema violência. A “teoria da substituição” foi
criada em 2010 por Renaud Camus, autor francês que
revelou ter medo de um genocídio de brancos (sic) em
virtude do crescimento populacional de imigrantes na
Europa que se quer branca. Os portais de extrema
direita dos EUA vêm amplificando a preconceituosa
ideia supremacista de Camus e alertando para o perigo
de brancos serem substituídos por outras etnias e raças
nos espaços do poder. Temem que deles sejam
confiscados bens simbólicos e materiais, muitos desses
bens fruto do saque histórico dos territórios negros e
indígenas, e que a boa rotina do mundo seja regida por
outras matrizes e civilizações. Bradam que é preciso
reagir a esse avanço que vem se mostrando irrefreável.
Embora Camus tente se desconectar dos ataques
crescentes de supremacistas brancos nos EUA e em
outros países, muitos desses crimes recorrem à teoria
do autor francês para justificar o ódio e a perseguição a
grupos raciais não hegemônicos. O massacre numa
sinagoga em Poway, Califórnia, em 2019, o atentado,
no mesmo ano, que matou cinquenta e um fiéis em
duas mesquitas na Nova Zelândia e o recente ataque ao
supermercado de Buffalo, em Nova Yorque neste mês
de maio. Payton S. Gendron, autor dos tiros em Buffalo,
escreveu cento e oitenta páginas carregadas com tintas