RECEITA DE MÉDICO - Covid longa e doença cardíaca
Banco Central do Brasil
Jornal O Globo/Nacional - Saúde
Sunday, May 29, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Você, provavelmente, já ouviu falar em Covid longa. É
assim que se convencionou chamar a situação
documentada ao redor do mundo, de pacientes
recuperados da Covid-19 que, no entanto, continuam
experimentando alguns sintomas prolongados. Como
tudo é muito recente, ainda não há caracterização para
a síndrome, mas dados iniciais mostram que as
sequelas podem perdurar por semanas, meses ou mais.
A depender do resultado de estudos recentes, esse
fenômeno pode ser ainda mais preocupante do que
pensávamos. Há cada vez mais evidências da relação
entre Covid longa e o surgimento ou agravamento de
doenças cardíacas. Ou, ainda, um aumento no risco de
problemas cardiovasculares nos meses seguintes à
infecção pelo Sars-Cov-2.
Um estudo recente publicado na prestigiada revista
Nature, envolvendo mais de 150 mil pacientes nos
Estados Unidos, aponta para essa hipótese. Os
pesquisadores constataram aumento de derrames,
arritmias, inflamações no coração, isquemias
miocárdicas e tromboses no grupo dos indivíduos
recuperados da Covid-19 - em comparação a um grupo
de controle com pessoas que não tiveram a doença.
Todos esses incidentes foram registrados em até 12
meses após a infecção original.
Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel,
também fizeram descobertas nesse sentido. Segundo
eles, as proteínas contidas no genoma do Sars-Cov-2
têm efeito nocivo sobre os vasos sanguíneos. Isso pode
provocar quadros como a chamada 'tempestade de
citocinas', ou seja, uma reação exagerada -e
potencialmente fatal - do sistema imunológico, gerando
disfunção vascular, coágulos e danos nos pulmões,
assim como em outros órgãos. Uma das complicações
mais prováveis, no entanto, é a constrição dos vasos do
coração - ou seja, ficam contraídos prejudicando o fluxo
de sangue para o músculo cardíaco.
É importante frisar que esses estudos são iniciais, mas
já demonstram as graves consequências da Covid
longa. O artigo publicado na Nature englobou pacientes
que foram hospitalizados com síndrome respiratória
aguda grave -um quadro que, como se sabe, afeta a
minoria das pessoas que tiveram Covid-19, porém
possui alto índice de letalidade. Destes, os que se
recuperaram estão apresentando sintomas da Covid
longa.
Os achados destes estudos já comprovam a correlação
entre Covid longa e doenças cardíacas. Portanto, já
estamos diante de um quadro sério e que merece cada
vez mais nossa atenção.
Isso porque a Covid longa está longe de ser uma
condição rara. Em estudo realizado no Hospital das
Clínicas (HCFMUSP), em São Paulo, foi observado que
mais de 60% dos pacientes que se recuperaram da
doença apresentaram sintomas como fraqueza, fadiga e
cansaço, após mais de 1 ano da alta hospitalar. Trata-
se, portanto, não apenas de um problema para os
profissionais de saúde, mas também um desafio de
gestão pública. Pensemos no caso do Brasil: ainda
que o número estimado de pessoas que desenvolvem a
Covid longa não passe de 10% (ou seja, ao que tudo