Nisee Genivaldo
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Jornal O Globo/Nacional - Opinião
Sunday, May 29, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: BERNARDO MELLO FRANCO
O presidente Jair Bolsonaro vetou a inscrição de Niseda
Silveira no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Alegou que a homenagem, aprovada pelo Congresso,
seria contrária ao interesse público.
A psiquiatra dedicou a vida a humanizar o tratamento de
pacientes com transtornos mentais. Formada em 1926,
rebelou-se contra os métodos agressivos da época,
como o choque elétrico, alobotomia e o
enclausuramento.
No Centro Psiquiátrico Pedro II, que seria rebatizado
com seu nome, Nise revolucionou as técnicas de terapia
ocupacional. Os pacientes foram estimulados a trocar a
vassoura pelo pincel. Em vez de passarem o dia
varrendo o pátio, exercitavam a imaginação em ateliês
de pintura.
A experiência resultou na criação do Museu de Imagens
do Inconsciente. As obras de arte produzidas no
Engenho de Dentro rodaram o mundo e foram
estudadas por Carl Gustav Jung, fundador da psicologia
analítica.
A vida de Nise inspirou filmes, livros e teses
acadêmicas. Ela morreu em 1999, consagrada como
referência da luta antimanicomial. Vinte e três anos
depois, sua memória é aviltada por um presidente que
despreza a ciência e exalta a tortura.
O veto de Bolsonaro foi publicado no Diário Oficial de
quarta-feira. No mesmo dia, três agentes da Polícia
Rodoviária Federal torturaram e mataram Genivaldo de
Jesus Santos, diagnosticado com esquizofrenia.
O ato bárbaro ocorreu em Umbaúba, no interior de
Sergipe, diante de dezenas de cidadãos. Um sobrinho
avisou que o homem sofria de transtornos mentais, mas
foi ignorado pelos policiais.
Genivaldo foi parado numa blitz quando dirigia sem
capacete. Ele desceu da moto e obedeceu à ordem
para pôr as mãos na cabeça. Mesmo assim, ouviu
insultos, levou pontapés e foi jogado no chão. Em
seguida, os agentes o arremessaram no porta malas da
viatura, onde despejaram gás lacrimogêneo e spray de
pimenta. O compartimento virou uma câmara de gás,
onde o homem se debateu por cerca de 15 minutos até
morrer sufocado. Ele deixou mulher e filho de 7 anos.
Em nota, a PRF disse que os agentes usaram
'instrumentos de menor potencial ofensivo' e atribuiu a
morte a um 'mal súbito'. A farsa foi desmontada porque
testemunhas filmaram o assassinato com câmeras de
celular.
O Código de Trânsito Brasileiro pune os motociclistas
que trafegam sem capacete com multa de R$ 293, 47 e
suspensão do direito de dirigir. No acostamento da BR-
101, essas sanções foram trocadas pela pena de morte
instantânea.
Na véspera do crime, a PRF participou da operação que
deixou 23 mortos na Vila Cruzeiro. O presidente elogiou
a chacina e chamou seus autores de 'guerreiros'. No