Marcelo Barreto - Um olho em Paris, outro no Catar
Banco Central do Brasil
Jornal O Globo/Nacional - Esportes
Sunday, May 29, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Marcelo Barreto
A final da Liga dos Campeões da Europa provocou
comparações debochadas com o futebol brasileiro antes
mesmo de começar. Tumulto, invasão, gás de pimenta,
atraso... Não era por aqui que víamos essas cenas
lamentáveis? No fim do primeiro tempo, o VAR entrou
em ação bem ao nosso estilo, levando torturantes
minutos para anular um gol por impedimento. Mas havia
um aspecto bem mais positivo da brasilidade para
observar no confronto entre Real Madrid e Liver-pool:
cinco dos jogadores que começaram a partida
nasceram no país do 7 a 1.
Era o maior contingente nacional num campo em que só
havia do melhor que o dinheiro pode comprar. Apenas
outros três países tinham mais de um representante
entre os titulares: Espanha (terra do Real), Inglaterra
(terra do Liverpool), com dois cada; e França (campeã
da última Copa do Mundo), com três. O resultado dessa
conta não é que voltamos a ser o país do futebol. E nem
me parece que seu efeito mais importante seja o de
mostrar que o Brasil continua produzindo jogadores do
mais alto nível - isso nunca deixou de acontecer,
mesmo quando perdemos o protagonismo no cenário
mundial. Prefiro enxergar pelos benefícios que a final
pode oferecer à seleção na próxima Copa do Mundo.
Em condições normais de temperatura, pressão,
geopolítica e saúde pública, o jogo de ontem teria feito a
transição da temporada europeia de clubes para a
preparação das seleções visando ao Mundial. Em vez
disso, ainda haverá quase seis meses até o Catar, com
férias e recomeço dos campeonatos nacionais na
Europa - o que faz com que muita coisa ainda possa
mudar. Mesmo assim, se tudo der certo, Vinicius Jr vai
chegar lá como o autor do gol mais importante da
temporada. Para um jogador jovem, sobre o qual os
holofotes sempre estiveram apontados, ter sido o
protagonista de uma final de Liga dos Campeões é
alcançar um lugar ainda mais alto na prateleira dos
craques internacionais.
(Abro estes parênteses para registrar uma dúvida:
minha vizinhança gritou no gol de Vini como grita em dia
de Fla-Flu. Mas não consegui identificar se eram rubro-
negros vibrando com o jogador revelado pelo clube ou
autênticos torcedores do Real - um fenômeno cada vez
mais presente, com a globalização do futebol).
Não há quem tenha saído igual do confronto de ontem.
Vinicius enlouqueceu Alexander-Arnold, um dos laterais
mais badalados do mundo. Éder Militão marcou Salah e
Mané (um só não está na Copa por causa do outro).
Alisson enfrentou Benze-ma, que muita gente quer ver
com a Bola de Ouro. Casemiro e Fabinho estiveram ao
lado dos meias que armarão o jogo para Alemanha,
Espanha, Inglaterra e Croácia na Copa. E Roberto
Firmino, que está fora da lista de Tite e entrou no
segundo tempo, teve a ingrata missão de encarar de
novo o goleiro da Bélgica.
(Aqui preciso abrir mais parênteses, para registrar que,
se chamei Vini de protagonista, Courtois foi o melhor em
campo).
Claro, foi só um j ogo, mesmo que tenha sido o mais