A economia e Bolsonaro
Banco Central do Brasil
Jornal O Globo/Nacional - Economia
Sunday, May 29, 2022
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Click here to open the image
Autor: MÍRIAM LEITÃO
A crise na economia é parte importante do quadro
refletido nas pesquisas eleitorais. A inflação está alta,
corroendo a renda. Isso afeta dramaticamente os
pobres e espalha desconforto na classe média. Nos
próximos dias, o presidente Jair Bolsonaro terá um
número para comemorar, o do PIB do primeiro trimestre,
que pode ter alta del, 5% sobre o período anterior. Isso
é bom, mas é um olhar pelo espelho retrovisor que não
traz alívio neste momento. O governo e o presidente da
Câmara, Arthur Lira, executam um golpe econômico
através de medidas para reduzir rapidamente a inflação
de maneira artificial. A grande perguntaé: isso terá efeito
eleitoral? Pode, sim, diminuir o índice em até dois
pontos percentuais, mas a carestia continuará.
O Datafolha trouxe um quadro extremamente negativo
para Bolsonaro, abrindo a possibilidade de a eleição se
decidir no primeiro turno em favor do ex-presidente Lula
da Silva. Nos números detalhados da pesquisa, tudo é
desfavorável a Bolsonaro. Lula está disparado em
vários segmentos da população, inclusive entre
beneficiários do Auxílio Brasil. A medida populista e
enganadora de trocar o nome do Bolsa Família,
piorando muito a estrutura do programa de assistência
aos mais pobres, não está funcionando. Bolsonaro e
Lula estão tecnicamente empatados (39% x 36%) entre
evangélicos. O uso abusivo do nome de Deus tem sido
em vão.
A economia sempre jogou papel importante na
formação do humor do eleitorado. E ela está em terreno
altamente negativo. A inflação tira renda, os juros altos
cortam o crédito, o desemprego aflige, o baixo
crescimento desanima. E importante entender que
Bolsonaro não é uma vítima das circunstâncias. Houve
a pandemia, e o presidente agravou seus efeitos na
economia pela maneira como liderou o país. Ele
decretou guerra contra os outros Poderes, os estados, a
vacina, as medidas de proteção. Desta forma,
encareceu a luta contra a pandemia. Os efeitos da
guerra da Rússia contra a Ucrânia chegaram quando a
inflação já estava em dois dígitos no país. Bolsonaro
piorou o que era ruim por razões internacionais..
A economia não é um ambiente isolado. É um ser vivo
afetado por tudo em volta. Um presidente estressado,
que governa levando diariamente o país ao limite da
tensão, piora o clima econômico. A estratégia eleitoral
de Bolsonaro é a crise institucional. Ele acusa o sistema
eleitoral de fraude, diz que se ele for derrotado pode
não respeitar o resultado, alimenta o fantasma da
intervenção militar num país que tem esse trauma,
ataca os que vão presidir o processo eleitoral. Isso é
lido nos conselhos das empresas como
imprevisibilidade. A dúvida sobre os eventos futuros
desestimula investimentos, reduz atividades
econômicas, incentiva atitudes defensivas, eleva
preços. O modo de Bolsonaro governar é inflacionário e
recessivo.
Bolsonaro deu a ordem para reduzir a inflação custe o
que custar. O golpe está sendo executado com a ajuda
dos ministros da Economia e de Minas e Energia e do
presidente da Câmara dos Deputados, o trio Guedes-
Sachsida-Lira. Bolsonaro tirou o presidente da