VOCÊ S/A wJANEIRO DE 2019 w 53
colegas. “Eles querem me enfiar em
tudo. Às vezes, preciso impedir”,
conta. Em 2017, foi vestido de Mama
Darling para discursar numa impor-
tante convenção de vendas da Ame-
rican Airlines. “Pego o microfone e
já vou logo dizendo: ‘Que empresa
é essa que deixa o funcionário vir
vestido assim para apresentar ge-
rentes e diretores?’.” Orgulhoso, o
gerente de novos negócios diz que,
em 24 anos de companhia, sofreu
preconceito uma única vez — e
de um passageiro. Havia uma fila
grande e o homem queria passar
na frente. Ao ter o pedido negado,
xingou-o de “bicha”. “Chamei o su-
pervisor e fiz aquele senhor pedir
desculpas. Tenho a sorte de traba-
lhar num lugar que não me obriga
a ser quem não sou.”
Seu conselho aos profissionais
que passam por situações difíceis no
mercado de trabalho é que procurem
se impor. “Estamos nesta vida para
ser feliz. Acho tão triste imaginar
alguém que não pode ser quem se
é no emprego. Com que vontade se
levanta da cama?” Fernando sabe
que se assumir gay ou comunicar
aos colegas uma readequação de gê-
nero exige boa dose de coragem, por
isso sugere que se fale primeiro com
os mais próximos, formando uma
rede de respeito.
Mesmo com o espaço que conquis-
tou, o executivo não se considera um
ativista da causa LGBT+ no mundo
corporativo. “Por enquanto, me en-
xergo apenas como um exemplo
possível. Alguém que mantém uma
carreira sendo gay e drag queen.” En-
tre seus planos está atuar de maneira
mais significativa no Pride, o grupo
de diversidade da American Airlines,
e a criação de um stand up com Mama
Darling para explorar esse universo.
“Estou convicto de que, quanto mais
nos posicionarmos, melhor. Um puxa
o outro. No mundo corporativo, sou
uma história de final feliz.”
SINTO COMO SE TIVESSE
TIDO UMA SEGUNDA CHANCE,
UMA OPORTUNIDADE
DE ME REINVENTAR
Quando o Carnaval chegar
Para dar conta do posto de gerência e
levar seus projetos pessoais adiante,
Fernando se desdobra. De manhã e
à tarde, cuida da rotina na American
Airlines. À noite e aos fins de semana,
dedica-se ao MinhoQueens e à Mama
Darling. Quando conversou com a re-
portagem, no final de dezembro, ainda
buscava patrocínio para colocar o bloco
na rua. Segundo seus cálculos, serão
necessários entre 50 000 e 70 000 reais
para contratar trios, seguranças, gradil
e cordeiros. “No ano passado, tivemos
público de 200 000 pessoas”, diz. O exe-
cutivo conta que a muvuca era tanta
que nem conseguiu aproveitar. Bebeu
duas garrafas de água durante o trajeto
e passou o tempo todo observando a
movimentação de cima do caminhão.
“Eu me sinto responsável. Se vejo
alguém brigar, mando parar. Se têm
pessoas subindo em ponto de ônibus
ou monumento, peço que a música seja
interrompida até descerem.”
Da porta do escritório para dentro,
Fernando lida com a empolgação dos
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