Você SA - Edição 248 (2019-01)

(Antfer) #1

74 wJANEIRO DE 2019 wVOCÊ S/A


Ainda mais competição
Segundo analistas do BTG Pactual,
a Cielo também está reduzindo os
preços em 20% a 30% para enfrentar
o duelo, que está longe do fim. De
acordo com relatório recente do Bra-
desco BBI, a tendência é que grandes
varejistas (sobretudo supermerca-
dos) virem credenciadoras, livrando-
-se das taxas cobradas nas transa-
ções. Em setembro, o Grupo Pão de
Açúcar lançou a maquininha Passaí.
O produto começou a ser usado em
lojas da rede Assaí e é oferecido tam-
bém a comerciantes e prestadores
de serviço sem cobrança de aluguel,
sem taxa de adesão e com conexão
via chip e Wi-Fi. Dez por cento da
taxa cobrada por transação (a depen-
der do faturamento do cliente) vira
pontos que podem ser trocados por
produtos no supermercado.
Mas nem todos são concorrentes
ferozes. As emissoras de cartões de
débito e crédito, por exemplo, enxer-
gam nessa briga uma boa oportuni-
dade. Fernando Pantaleão, vice-pre-
sidente da Visa, diz que a empresa
vem mapeando os estabelecimen-
tos que ainda não trabalham com
máquinas de cartão. “Repassamos
semanalmente esses dados às cre-
denciadoras. Conversamos até com
os bancos regionais, pois não adianta
levar as máquinas a uma localidade
se poucas pessoas ali têm acesso aos
cartões”, afirma o executivo.
Já a Mastercard aposta nas parce-
rias estratégicas. É o caso do traba-
lho em conjunto feito com a creden-
ciadora GetNet para atender leilões
de gado. João Pedro Neto, CEO da
Mastercard para Brasil e Cone Sul,
explica que nesse tipo de negócio as
opções de parcelamento são diferen-
tes das praticadas no mercado em
geral. “Trabalhamos juntos e agora
oferecemos uma máquina com me-
canismo diferenciado. Nossa ideia é
somar forças e levar máquinas para
setores inexplorados, como paga-


MERCADO

Horizonte
de desafios

mento de mensalidades de escola e
de condomínio”, diz o executivo.
Quem também ganha no avanço
da cadeia são as fabricantes dos
cartões. Neste ano, a chinesa PAX
teve de ampliar os turnos no Brasil,
aumentar o maquinário e contratar
serviços de terceiros para atender
a pedidos de Cielo e PagSeguro. A
produção cresceu 60% em 2018.

Oportunidade profissional
Com tanta competição, as compa-
nhias voltaram a atenção para os
profissionais. Há uma disputa por ta-
lentos. Em 2017, antes de virar CEO
da Adiq, empresa de maquininhas,
o engenheiro Marcos Cavagnoli, de
46 anos, recusou o convite de duas
concorrentes e de um gigante do
Vale do Silício na área de meio de
pagamento. “Escolhi pela empresa
na qual senti que teria mais espaço
para liderar estratégias que fariam
a diferença nesse mercado.”
Marcos, que foi presidente de uma
unidade do J. P. Morgan da América
Latina, um dos maiores bancos do
mundo, está animado. Seu principal
direcionamento à frente da Adiq é
investir em tecnologia e customização,
com soluções específicas para cada
mercado. “Hoje, possuímos ferramen-
tas que aumentam a taxa de aprova-
ção da transação, impedindo que o
cartão não ‘passe’ por algum erro do
sistema, por exemplo. Também temos
um software integrado à maquininha
em que o comerciante pode oferecer
pontos ou dinheiro de volta ao clien-
te de acordo com suas compras.”
Segundo Marcos, a competência
mais importante para vencer num
setor bélico como o de meios de pa-
gamento é ter experiências diversas
(ele também passou por Citibank
e Alstom, e ajudou a criar startups
do zero, como a Koin, que atua em
pagamentos via boleto para lojas
virtuais) e um olhar bastante atento
às movimentações de mercado para

EMBORA DE FORMA AINDA TÍMIDA,
O BRASIL COMEÇA A SEGUIR OS
PASSOS DA CHINA, REFERÊNCIA EM
INOVAÇÃO NOS MEIOS DE PAGAMENTO.
SEGUNDO ROBSON DANTAS,
CONSULTOR DA MASTERCARD EM
PROJETOS DIGITAIS PARA A AMÉRICA
LATINA, ASSIM COMO ACONTECEU NO
PAÍS ASIÁTICO, EM BREVE AS
MAQUININHAS DEVEM PERDER O
POSTO NO BRASIL PARA O CELULAR E
OUTROS GADGETS, COMO RELÓGIOS
INTELIGENTES. “OS CHINESES FAZEM
PAGAMENTOS POR APROXIMAÇÃO, DE
UM CELULAR PARA O OUTRO, COM QR
CODE”, AFIRMA O EXECUTIVO. BRUNO
DINIZ, DA CONSULTORIA SPIRALEM,
VAI ALÉM: “ESSAS MAQUININHAS SÃO
APENAS UM ESTÁGIO DA BATALHA. O
MERCADO DEVE AVANÇAR MUITO NOS
PRÓXIMOS ANOS”. NA CHINA, QUEM
REVOLUCIONOU OS MEIOS DE
PAGAMENTO FOI O APLICATIVO DE
TROCAS DE MENSAGENS INSTANTÂNEAS
WECHAT. COM 963 MILHÕES DE
USUÁRIOS, ELE PERMITE, ALÉM DE
CONVERSAR, FAZER PAGAMENTOS
DIRETAMENTE DA PLATAFORMA.

Shenzhen, na China: até os ônibus
já aceitam pagamento via celular

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