Essa gordura tem empolgado agora no combate
à ansiedade, problema que aflige 18 milhões de brasileiros.
É mais um motivo para colocar peixes e sementes na rotina
por REGINA CÉLIA PEREIRA | design ANA PAULA MEGDA e LETÍCIA RAPOSO | fotos DULLA | produção INA RAMOS
MENOS ANSIOSO
COM ÔMEGA-3
N
a receita de uma mente ansiosa,
preocupação e nervosismo estão
entre os principais ingredientes.
Juntos e em excesso, fazem desan-
dar a qualidade de vida e rendem prejuízos
ao corpo todo. Para que a situação não saia
do controle, é crucial misturar diagnóstico,
sessões de psicoterapia e, se for necessário,
medicação na dose certa. Ao que tudo in-
dica, porém, a lista de itens aliados deve
crescer. Anote aí: sardinha, salmão, linha-
ça, chia... Fontes de EPA, DHA e ALA, siglas
que fazem referência ao ômega-3, esses ali-
mentos despontam em pesquisas por sua
atuação contra a tensão mental.
Um estudo brasileiro recém-saído do
forno acaba de fisgar essa associação. Faz
sentido, já que nosso país ocupa o topo do
ranking mundial de ansiosos. Para sua tese
de doutorado, defendida na Universidade
de São Paulo (USP), a nutricionista Lara Na-
tacci analisou dados do Estudo Longitudi-
nal Brasileiro de Saúde do Adulto — Elsa-
-Brasil, coletados em Belo Horizonte, Porto
Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo
e Vitória. Foram esmiuçados questionários
sobre os hábitos alimentares e a ocorrência
de distúrbios entre 12 268 adultos. “Tudo
validado pela classificação internacional de
doenças (CID)”, comenta. Conclusão: os
maiores consumidores de ômega-3 apresen-
taram menor risco de sofrer de ansiedade
em relação às pessoas com baixa ingestão.
Ou seja, os pescados ocupam o centro da
mesa da turma de cuca fresca.
Embora a pesquisadora ressalte que falta
muito para elucidar os efeitos da gordura
desses alimentos na massa cinzenta, não
resta dúvida de que seu potencial anti-in-
flamatório entra na jogada. Há evidências
de que o consumo de ômega-3 favoreça a
produção de resolvinas e ajude a diminuir
a quantidade de citocinas. Traduzindo:
essa gangorra na fabricação de substâncias
é que colabora para o controle da inflama-
ção. “Ocorre, então, uma melhora na co-
municação entre os neurônios. Além disso,
certas áreas do cérebro, como o hipocam-
po, são preservadas”, explica Lara.
Não é de hoje a constatação de que nos-
sa cabeça tem fome dos tais ácidos graxos
poli-insaturados. Eles compõem muitas es-
truturas cerebrais. Não à toa, o homem pa-
leolítico se estabeleceu em torno de lagos,
rios e mares. Atualmente, com tanta facili-
dade, em um país banhado por tanta água,
não tem desculpa para ficar sem peixe no
prato. Tá nervoso? Vá pescar!
34 • SAÚDE É VITAL • JANEIRO 2019