tivesse feito. Já o arrependimento
de Paulo, vítima da própria inação,
parece menos penoso às pessoas
convidadas a se identificar com os per-
sonagens dessa história.
Um caso de miopia
Diversos estudos indicam que, em geral, de forma imediata
tendemos a nos arrepender mais pelo que fizemos do que
pelo que não fizemos. A curto prazo, nossos fracassos são
mais dolorosos quando provêm de ações que não trouxeram
os resultados pretendidos (como no caso de Pedro, que ven-
deu suas ações da empresa B no momento errado) que quan-
do resultam de inações (como Paulo, que pensou em comprar
ações B, mas não o fez). Simples assim? Não mesmo, essa é só
uma parte da história.
O sofrimento do presente
O
s dicionários de francês definem regret como “um estado de consciência penoso,
ligado ao passado, pelo desaparecimento de momentos agradáveis”. Lamentamos
não só escolhas, mas também aquilo que não depende de nossa vontade: o
fim da infância, das férias, de um amor. Em seu Tratado das paixões da alma, Descartes o
descreveu como um pesar, uma “espécie de tristeza” daquilo que se passou bem. Esse tipo
de sentimento, que se assemelha à nostalgia, pode às vezes, e paradoxalmente, causar certo
prazer, pois é associado à evocação de momentos agradáveis. Victor Hugo, por exemplo,
definia nostalgia e melancolia como “a felicidade de ser triste”.
Outro uso de regret, mais difundido, e mais similar ao termo “arrependimento”, em
português, é ligado ao descontentamento ou à mágoa por ter feito – ou não – alguma
coisa. Trata-se de uma sensação desagradável, associada a numerosas emoções negativas:
ressentimento, culpa, autocensura etc. Não nos contentamos mais em somente evocar
o que se foi, mas avaliamos nossa responsabilidade num comportamento passado que
lamentamos e em suas consequências atuais. Nesse sentido, o arrependimento não é
somente a dor do passado, mas também um sofrimento do presente.
capa • arrependimento