Viva Saúde - Edição 197 (2019-10)

(Antfer) #1
tratamentos selecionados, baseados na análi-
se genômica. Ou seja, tratar o tumor indepen-
dentemente de sua origem.”
Os dados colhidos vão colaborar na defi-
nição de novas condutas para terapias-alvo,
uma vez que os testes genéticos são capazes
de identificar marcadores moleculares que
sinalizam a resposta que as células podem
dar a medicamentos específicos. Isso ajuda
a diagnosticar casos em que o combate pode
ser feito pela imunoterapia – uma forma de
tratamento que busca, por meio de proteínas
sintéticas, ativar o sistema imunológico do
paciente para combater o tumor.

Medicina personalizada
Embora os resultados preliminares do es-
tudo sejam promissores, é cedo para dizer
que a imunoterapia é a melhor conduta de
tratamento para o câncer de sítio primário
desconhecido. Por outro lado, os oncologis-
tas não escondem o entusiasmo pela possi-
bilidade de investigar o perfil genético dos
tumores, uma ação que faz parte do conceito
de medicina personalizada. “Para mim, esse
é o ‘cálice sagrado’ da oncologia”, diz Feher.
“Nessa linha, não interessa muito de onde
vem o tumor, mas sim a que tipo de tratamen-
to ele responde”, completa.
Aloisio Souza da Silva explica que, em al-
gumas alterações específicas, o SUS já ofere-
ce alternativas de medicina personalizada. É
o caso de certas leucemias e certos sarcomas
raros. “Mas são drogas mais antigas e alvos
conhecidos há mais tempo. Quando se pensa
de forma sistêmica, o acesso a elas no Brasil
ainda é muito limitado”, conta.
O alto custo das novas medicações é cada
vez mais debatido na comunidade médica,
tanto no âmbito privado quanto no público.
“Normalmente essas drogas chegam ao pú-
blico com valor comercial alto, e não só no
Brasil. Isso porque a indústria farmacêutica
tem um investimento muito alto de desenvol-
vimento e apenas uma porção baixa é comer-
cializada”, explica Andreia Melo, da SBOC.
“É por isso que procuramos aumentar o aces-
so à pesquisa clínica para ampliar a oferta de
novos tratamentos”, diz a oncologista.

Ainda há
uma grande
desinformação
sobre o câncer
no Brasil.
Mapeamento
realizado pela
SBOC mostrou
que 40% da
população
declara ter
conhecimento
apenas
mediano sobre
a doença, e
quase o mesmo
número de
pessoas diz ter
“muito medo”

“O teste genético avalia a presença de mu-
tações ou alterações na estrutura normal dos
genes que compõem o DNA, que é responsá-
vel por guardar os códigos genéticos que de-
finem todas as estruturas e funções do corpo.
Com isso, é possível saber se essas alterações
podem ser abordadas por medicações espe-
cíficas, direcionadas para elas. É o que cha-
mamos de terapia-alvo”, explica Alexandre
Pupo Nogueira, mastologista, ginecologista e
obstetra do Hospital Sírio-Libanês. Essas te-
rapias visam atingir um ponto específico da
biologia de crescimento tumoral. “Isso difere
do tratamento tradicional, como a quimio-
terapia, em que usamos drogas tóxicas que
matam indiscriminadamente as células do
corpo, tanto as tumorais como as saudáveis”,
prossegue Pupo, informando que o teste pode
ser usado na investigação de vários tumores.
Andreia Melo, oncologista da SBOC, re-
conhece que “os testes genéticos chegaram
com força na oncologia. Em muitas situações,
já fazemos análises moleculares, e para algu-
mas delas conseguimos propor tratamentos
guiados específicos. Mas infelizmente eles
não são realidade para a maior parte da popu-
lação, uma vez que estão disponíveis em ape-
nas algumas instituições da rede privada. É
preciso lembrar que, no Brasil, ¼ das pesso-
as tem convênio particular, e o restante não”.
Aloisio Souza da Silva ressalta que tais testes
não são oferecidos pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), “a não ser no contexto de pes-
quisa científica, em caráter experimental”.

resposta nos genes
Uma dessas pesquisas vem sendo feita
desde 2018. O CUPISCO (veja o quadro na
página 73) é um estudo que abrange 23 paí-
ses e tem por finalidade testar quão eficaz e
segura pode ser uma terapia-alvo guiada por
marcadores moleculares em pacientes que
desenvolveram câncer de sítio primário des-
conhecido. Olavo Feher, que é o principal in-
vestigador do estudo no ICESP, vê dois gran-
des méritos nessa pesquisa. “O primeiro é
justamente ele propor uma nova maneira de
tratar esse tipo de tumor. O segundo grande
mérito é estabelecer um perfil para oferecer

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