National Geographic - Portugal - Edição 215 (2019-02)

(Antfer) #1
AÇORES 99

A moreia-preta é
característica do oceano
Atlântico Central. Este
exemplar foi fotogra-
fado na Parede de São
Caetano, um porto
piscatório na ilha do
Pico referenciado pela
comunidade internacio-
nal de mergulho e um
dos muitos locais nos
Açores onde o turismo
ecológico já se traduz
em receitas económicas
consistentes.
MANU SAN FÉLIX / PRISTINE SEAS


Entre vários episódios menos felizes, os avista-
mentos de predadores de topo como os tubarões-
-azuis ou anequins foram raros. Trata-se de um
indicador lamentável, tendo em conta que a sua
presença simboliza um ecossistema saudável. Ain-
da assim, aquilo que mais surpreendeu pela nega-
tiva os exploradores foi o estado de degradação em
que já se encontram o Corvo e as Flores. “Por serem
locais remotos, expostos a tempestades frequentes
e com poucos habitantes, esperávamos águas mais
ricas”, lamentou Emanuel Gonçalves. “Todavia,
fora das reservas marinhas, as ilhas apresenta-
ram níveis de sobreexploração acentuados, assim
como impactes humanos significativos. Tanto no
mar profundo como nos recifes costeiros.”
Em conjunto com o Governo Regional dos Aço-
res e os seus parceiros, a Fundação Oceano Azul
pretende desenvolver uma rede alargada de áreas
marinhas onde sejam interditas a pesca e a extrac-
ção de recursos. Sem impactes antropogénicos, se-
ria possível potenciar a biodiversidade no interior
das reservas e nas zonas adjacentes que acabam
por ser beneficiadas. Esta reposição de recursos
permitiria que as operações de pesca comercial
alcançassem as capturas pretendidas sem colocar
em risco espécies com stocks mais vulneráveis.
Mais do que nunca, e enquanto se aguarda pela
validação na ONU da proposta portuguesa de
alargamento da plataforma continental, Portugal
terá de encontrar mecanismos para zelar pelo seu
capital natural. É tempo de olhar para tudo o que
foi feito acertadamente e replicar. O caso da reser-
va marinha do Corvo é um bom exemplo de coo-
peração entre agentes locais e decisores e os seus
resultados práticos são palpáveis. A descoberta
inesperada do campo hidrotermal Luso sublinha
igualmente a convicção de que o mar é uma fonte
inigualável de possibilidades para o futuro.
No final de Junho de 2018, Gui Menezes, secretá-
rio regional do Mar, Ciência e Tecnologia, anunciou
a inclusão do campo hidrotermal Luso no Parque
Marinho dos Açores. Foi um sinal simbólico de in-
teracção entre cientistas e decisores, uma piscadela
de olhos ao esforço que uns terão de fazer para for-
necer aos outros ferramentas concretas de acção.
Os países que conseguirem gerir de forma susten-
tável o manancial económico que existe no oceano
encontrarão o seu lugar na economia azul. Sem es-
tratégia, não haverá futuro num mundo finito com
uma população constantemente faminta. Essa é
talvez a principal lição em que os membros da expe-
dição pensavam enquanto o Santa Maria Manuela
navegava para terra no final da campanha. j
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