National Geographic - Portugal - Edição 215 (2019-02)

(Antfer) #1
CANGURUS 73

No entanto, há bastantes mais cangurus do que
seres humanos na Austrália e muitos australianos
consideram-nos uma praga. Os agricultores e os
criadores de gado afirmam que uma população de
50 milhões de cangurus contribui para destruir as
suas colheitas e compete pelos recursos disponí-
veis com os seus animais de criação.
Segundo a indústria seguradora da Austrália,
os cangurus estão envolvidos em mais de 80% das
20 mil colisões de viaturas com animais regista-
das todos os anos. No interior árido do país, afir-
ma-se consensualmente que o número de can-
gurus atingiu “proporções de praga”. O mesmo
raciocínio assegura que, na ausência de preda-
dores tradicionais como os dingos e os caçadores
aborígenes, abater cangurus tornou-se um acto
fundamental para garantir o equilíbrio ecológico.
Também o será para revitalizar a economia ru-
ral. Em 2017, uma indústria apoiada pelo Estado,
baseada na exploração comercial de carne e peles
de canguru, produziu exportações de 25,4 mi-
lhões de euros, sustentando quatro mil postos de
trabalho. Actualmente, 56 países já importaram


carne, couro e cabedal de espécies não ameaça-
das como o canguru-cinzento-oriental, o can-
guru-cinzento-ocidental, o canguru-vermelho e
o canguru-comum. Marcas de renome mundial
compram o couro forte e flexível do canguru para
fabricar equipamento de atletismo. E a carne de
canguru, outrora vendida sobretudo como ração
para animais, está a ser vendida em talhos e res-
taurantes para consumo humano.
Quatro dos oito estados e territórios da Austrá-
lia gerem uma quota anual de abate selectivo que
assegura o abastecimento da indústria. Os defen-
sores sublinham que a carne de canguru, com bai-
xo teor de gordura e elevado teor de proteína, pro-
vém de um animal cuja criação é mais amiga do
ambiente do que o carneiro ou a vaca, fortes emis-
sores de gases com efeito de estufa. Segundo John
Kelly, antigo director executivo da Associação de
Indústrias do Canguru da Austrália, “obter os nos-
sos alimentos e fibras de animais adaptados aos
frágeis solos da Austrália é sensato e sustentável.
Muitos ecologistas dirão que não existe maneira
mais humanizada de produzir carnes vermelhas”.
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