National Geographic - Portugal - Edição 215 (2019-02)

(Antfer) #1
CANGURUS 75

não estamos autorizados a gerir enquanto todo
o nosso sustento é devorado debaixo dos nossos
pés. O que podemos fazer nesta situação? Falar
com o gerente do banco e entregar-lhe as chaves?
Ou comprar uma caixa de balas?”


NO MOMENTO EM QUE O SOL se põe na zona rural
de Queensland, Brad Cooper deita mãos ao traba-
lho. O robusto matador de cangurus sai da estrada
e estaciona a carrinha numa garagem, cerca de
trinta quilómetros a leste de Mitchell. “Esta noite
vamos apanhar tantos quantos pudermos”, diz.
“Mas não gosto deste vento. E eles também não.”
“Eles” são os cangurus-cinzentos-orientais que
ele aqui vem matar. Quando o vento sopra, os can-
gurus reúnem-se e é mais difícil para os atiradores
seleccionar os machos adultos que estão legal-
mente autorizados a eliminar. Os atiradores co-
merciais têm de ser aprovados num exame de tiro
e receber formação em bem-estar e higiene ani-
mal. Todos os meses têm de elaborar um relatório
pormenorizado da sua actividade, de modo a ga-
rantir que o abate não excede a quota estipulada.


Brad tem 41 anos. Abateu o seu primeiro can-
guru aos 5 anos. Actualmente, trabalha três noites
por semana, entre seis e oito horas por noite. Esta
noite, o seu objectivo é matar 30 cangurus, mas o
seu recorde numa só noite foi de 104 animais.
Enquanto as nuvens cruzam velozmente o céu,
a meia-lua brinca às escondidas no céu nocturno.
O cheiro intenso dos arbustos inunda o ar. Brad
usa as luzes do camião para varrer a noite para
trás e para a frente. Um minuto depois, encontra
aquilo que procurava. Um macho adulto ergue-se
a 100 metros de distância, com quase dois metros
de altura, fixando as luzes do camião como se es-
tivesse hipnotizado. Pum! O ruído da arma rasga
a noite. O canguru colapsa.
Brad conduz o camião até ao canguru abatido.
Iça a carcaça para a caixa do camião e pendura-a
por uma das patas traseiras. Agindo com uma efi-
ciência experiente, sangra o animal, remove as vís-
ceras, inspecciona a carcaça em busca de lesões ou
parasitas que possam retirar-lhe valor de mercado.
Corta as patas dianteiras do canguru, decapita-o e
retira a cauda.

No Clube de Golfe de
Anglesea, em Victoria,
um jogador e um grupo
de cangurus-cinzentos-
-ocidentais aproveitam
a relva de maneiras
diferentes. Os cangurus
são um elemento
comum nos relvados
australianos – uma
atracção para os turistas
e uma oportunidade
para os cientistas
estudarem estes animais.

(Continua na pg. 80)

Free download pdf