Freud e seus Fantasmas - Rafael Rocha Daud

(Antfer) #1

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Sigmund Schlomo Freud

Se a busca de uma análise fosse o autoconhecimento,
então estaríamos procurando, evidentemente, algumas
características básicas, típicas, alguns elementos
padrão, particulares, por meio dos quais aquele
paciente específico estaria identificado. Feito esse
trabalho, o paciente teria adquirido um conhecimento
maior acerca de quem ele é e a análise poderia ser
encerrada (não estaria claro, porém, o momento
em que essa análise deveria se encerrar, o quanto
de autoconhecimento seria necessário ou desejável
atingir antes de considerar o tratamento satisfatório).

O que buscamos, entretanto, não é isso, mas as
razões do sofrimento daquela pessoa. É por isso que
afirmo que sem que haja um sofrimento não há motivo
para empreender uma análise. O que acontece, porém,
como também já mencionei, é que não é olhando
para o sofrimento, para a doença, que seremos
capazes de curá-los, mas olhando e, principalmente,
ouvindo aquilo que o paciente pode dizer a respeito
desse sofrimento. Ali sim está o conhecimento que
buscamos, as peças do quebra-cabeça que compõe o
sentido daquela doença aparentemente desprovida
de sentido.

É apenas quando esse conhecimento é alcançado, ou
seja, quando é exposto à luz do dia o mecanismo que
construía aquela doença, que lhe dava algum sentido,
que a doença pode ser curada: expor seu mecanismo
esvazia o sentido que a sustentava. No momento exato
em que o nonsense de um sintoma tem seu sentido
descoberto, deixa de ter sentido, ou melhor dizendo:
tal sentido esvazia-se, torna-se irrisório, irrelevante.
Este é o caminho da cura.
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