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Sigmund Schlomo Freud
rancor e pelo desgosto, mas isso escapa ao nosso assunto
agora. Prossigamos.
As transferências e os sonhos
O amor de transferência, que não deve ser confundido
com o desejo sexual, significava, neste caso, que a
paciente se inclinava a satisfazer Freud naquilo que
supunha serem seus desejos: no caso, o de curá-la da sua
homossexualidade. Ora, nem era esse o desejo de Freud,
nem o dela. Seu sonho, concluiu Freud, não significava a
realização do desejo por um homem, como parecia ser.
Significava, sim, a realização do seu desejo de satisfazer
Freud, como se dissesse para ele: “Veja, você tinha razão,
você é um terapeuta excepcional, estou curada”. É como
se o inconsciente mentisse: fingindo estar curada de sua
homossexualidade, sonhando com um homem, ela pôde
realizar o desejo de que Freud fosse bem sucedido em
sua tarefa, coisa que, de resto, não desejava em hipótese
alguma.
O inconsciente, como o sonho, não conhece o não,
não conhece a contradição. Dessa maneira, o sonho não
se manifesta de maneira negativa, não diz: “Eu não sou
heterossexual, não me interesso por homens, sua terapia
não terá efeito sobre mim”. Ele se manifesta de maneira
positiva, sempre. Diz, ao mesmo tempo: “Sua terapia
funciona, veja, e como! Eu me interesso por homens,
estou curada! Você é um ótimo terapeuta”. Ao mesmo
tempo, porém, conforme realiza o desejo de satisfazer seu
“O inconsciente, como o sonho, não conhece o não,
não conhece a contradição. Dessa maneira, o sonho
não se manifesta de maneira negativa, mas de
maneira positiva, sempre.”