Freud e seus Fantasmas - Rafael Rocha Daud

(Antfer) #1

78


Sigmund Schlomo Freud

se (da mesma forma como operava o deslocamento
nos sonhos) para outros sintomas, que passavam a
representar as narrativas psíquicas não analisadas no
lugar dos traumas ou sintomas curados. Enquanto Freud
não enfrentou a questão de analisar essas narrativas,
que eram, em todo caso, narrativas a respeito do desejo
(até poderíamos dizer: narrativas que tentavam evitar o
problema do desejo), a psicanálise não havia se firmado
como uma clínica consistente, nem como prática
científica, mantendo-se apenas uma terapêutica mais
ou menos eficaz.

A primeira revolução de Freud foi, em nosso entender,
ter colocado a questão do desejo em primeiro plano,
acima do trauma, da patologia e do sintoma. E foi
apenas partindo de sua própria experiência, ou seja, da
autoanálise que empreendeu a partir de seus próprios
sonhos, que Freud pôde operar essa revolução.

A segunda revolução, em nosso entender, foi quando
Freud pôde examinar os neuróticos de guerra e ver o
furo que eles apontavam em sua teoria, pois o desejo e o
princípio de prazer sustentado por ele eram contrariados
pelos fenômenos e patologias de que sofriam esses
neuróticos. A coragem de Freud foi o que o permitiu
incluir em sua teoria não apenas uma força única,
de aproximação e ligação, Eros, libido, mas também
essa outra, a força de desagregação, destrutividade,
agressividade, elementos que a Guerra o havia obrigado
a considerar não como incidentais ou excepcionais na
realidade humana, mas como profundamente enraizados
nela, força a qual batizou, adequadamente, com o nome
de Thanatos, deus da morte na mitologia grega.

Com Eros, deus do amor, figuram assim em oposição
Free download pdf