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ilustrada
Sábado,19dEoutubrodE2 019 C5
patrocínio master patrocínio
parceria apoio copatrocínio colaboração
transportadora promoção realização
oficial
mostra.org
17_30.10. 2019
NINAPANDOLFO
MINISTÉRIODACIDADANIA, GOVERNO DOESTADO DESÃOPAULO,
PORMEIODASECRETARIA DE CULTURAEECONOMIA CRIATIVA,
PREFEITURA DESÃOPAULOEITAÚ
apresentam
- FábioZanini
SãoPauloPrestesacomple-
tar 78 anos, Pepetela acompa-
nha de suacasa, de frentepa-
ra abaía de Luanda,asnotíci-
as que afligemomeio cultu-
raldoladodecádoAtlântico.
Oescritor angolano,que
vemaoBrasilhámais de
40 anosetem amigos emvá-
riascidades,tentanão su-
perestimar as notíciasso-
brecensuraoficialecorteno
financiamentoaprojetos.
“O Brasiltemuma tradição
culturaltamanha que não há
problema emcontinuarade-
senvolver-se tranquilamen-
te.Éimpossívelcalar os cri-
adores nestemomento”,dis-
se àFolha,emvozpausada e
tãobaixa queàsvezes secon-
fundecomummurmúrio.
Nome deguerradeArtur
Carlos MaurícioPestanados
Santos, que usa desde sua
participação naguerrilha
marxistadurantealutapela
independência angolana de
Portugal,nosanos 1970 ,Pe-
petela estálançando no Bra-
sil “O Quase Fim do Mundo”.
Oromance, lançado origi-
nalmenteem 2008 ,tratade
umacomunidade que sobre-
viveaumeventoapocalíptico.
Pepetela escolheucomocená-
rioaÁfrica,compersonagens
simbólicosdocontinente, co-
mo uma curandeira, um pes-
cadoreuma senhorareligiosa.
Aopção por situar uma dis-
topia em solo africano segue
fazendo sentido,diz ele,mes-
mocomoavanços democrá-
ticos emváriospaísesemai-
or crescimentoeconômico.
Aprincipal dificuldadeen-
frentada hoje pelos países po-
bres, segundooescritor,écau-
sada por“alguns seres que pa-
rece que vieram de alguma es-
trelagélidaecom muitopo-
dergovernamcomoTwitter”.
Refere-se, claroaopresiden-
te dos Estados Unidos,Donald
Trump,dequemdesdenha
comsuaforteveia irônica.
“EleéoqueMao Tsé-tungdizia
do imperialismo,umtigrede
papel”.EJairBolsonaro?
“É apenasoaprendiz.”
Pepetela expressasatisfa-
çãocom os novostemposem
seu país, que trocou de presi-
denteem 2017 após 38 anos.
“Jásentimaisotimismo.
Agoraéoano dorealismo,
éimpossível cumprirtudo
oque se prometeu.Dequal-
quer maneira,ogovernoatu-
al émuitomelhor.Não há
mais problemacomjorna-
lista,aliberdade deexpres-
são cresceu”,diz ele, que du-
ranteseteanos,até 1982 ,foi
vice-ministrodaEducação.
Depoistornou-se um crítico
da esquerdadogmáticaehoje
se definecomo um“libertário”.
Vencedor do Prêmio
Camões de 1997 ,Pepetelafaz
ecocom ChicoBuarque ao
menosprezararecusa deBol-
sonarodeassinarahonraria.
“Eutenhoocertificado as-
sinadopelospresidente Fer-
nando Henriquee[oportu-
guês]JorgeSampaio,pessoas
de grandevalor intelectual”,
afirma, deixando no arocon-
trastecomoque pensa sobreo
valor intelectual deBolsonaro.
Ele nãovê aliteraturanum
grande momento,em par-
te porque muitospaísespas-
samoupassaram porcrises
severas. “A spessoas nãotêm
dinheiro.Oprimeirobem
que se dispensaéolivro”,diz.
Etambém, acredita, o
mercado literário aindaestá
se adaptandoaummundo
em que as pessoas ficam mais
tempoateclar do quealer.
Um poucoemrazão desse
cenário, ele enxergauma cri-
se no prêmio maiscobiçado de
sua área,oNobel de Literatura.
Diz que não tinha ouvidofa-
lar dosvencedores deste ano,
apolonesa OlgaTokarczukeo
austríacoPeter Handke. Mas
asseguraque esse nãoéomo-
tivodesua crítica,esimasu-
cessão de polêmicasextrali-
terárias envolvendooNobel.
Noano passado,oprêmio
nãofoientreguedevidoaum
escândalosexual.Nesteano,
oproblemafoiaproximidade
de Handkecomoex-ditador
sérvioSlobodan Milosevic.
“ONobel estáaficardesa-
creditado,porrazões defo-
rada literatura.Nãodeve-
mos pensar queoprêmio seja
muitoimportante,jáfoi mais.”
Um anoapós lançar seuúlti-
moromance, “SuaExcelência
de CorpoPresente”, Pepetela
diz que nãotemdefinido seu
próximo projeto. “Isso não me
preocupa, um livroouaconte-
ce,ounão acontece”, dizele.
Maséprovávelqueojejum
durepouco, revela. “Minha mu-
lhercomeça adizerqueestou
nafase da implicância.Eque é
horadeirparaocomputador.”
OQuase Fim do Mundo
autor: Pepetela. Ed.Kapulana.
r$ 56,90(360 págs.)
Bolsonaro é‘apenas
oaprendiz’ de Trump,
diz oescritorPepetela
Vencedor do Prêmio Camões, angolano critica não assinatura
de diplomaaChicobuarqueeomomentoatual da literatura
Oescritor angolano Pepetela, em São Paulo KarimeXavier/Folhapress