– Tobben?
– O gerente da loja.
– Sugiro que ligue agora a Tobben e consiga a autorização para me dar a
cassete, de modo a que eu não tenha de o deter durante mais tempo.
– Isso vai ter de esperar – disse o rapaz, e as borbulhas ficaram ainda mais
vermelhas. – Agora não tenho tempo para ir à procura de uma cassete.
– Oh – disse Harry, sem esboçar um único movimento. – E que tal depois
de fechar?
– Estamos abertos vinte e quatro horas – disse o rapaz, a rolar os olhos.
– Foi uma piada – disse Harry.
– Certo. Ah ah – replicou o rapaz com uma voz de sonâmbulo. – Vai
comprar alguma coisa ou não?
Harry sacudiu a cabeça e o rapaz olhou para lá dele.
– Caixa está aberta.
Harry suspirou e virou-se para a fila que se amontoava em direcção ao
balcão.
– A caixa não está aberta. Sou da polícia de Oslo. – Levantou o distintivo. –
E este indivíduo está preso por ser incapaz de pronunciar o «A».
Em certas questões, Harry podia ser de vistas curtas. No entanto, naquele
momento em particular, sentiu-se extremamente satisfeito com a resposta.
Gostava que lhe sorrissem.
Mas não gostava do sorriso que parecia fazer parte do treino profissional de
padres, políticos e cangalheiros. Sorriam com os olhos enquanto falavam e
isso dava a herr Sandemann da Agência Funerária Sandemann uma
sinceridade que, juntamente com a temperatura no armazém de caixões sob a
Igreja de Majorstuen, fazia com que Harry estremecesse. Estudou o local.
Dois caixões, uma cadeira, uma coroa, um agente funerário, um fato preto e
um capachinho.
– Ela está maravilhosa – disse Sandemann. – Tranquila. Em paz. Digna. É
da família?
– Não exactamente. – Harry mostrou o distintivo da polícia na esperança de
que a sinceridade fosse reservada para a família mais próxima. Não era.