– Uma pena que não sejas tu a conduzir – disse Beate, forçando a roda da
frente a subir o passeio, a carregar na buzina e a acelerar. Os transeuntes
saltaram para fora do caminho.
– Estou? – disse Harry para o telemóvel. – Vocês acabaram de recolher um
contentor verde da Bogstadveien, junto ao cruzamento com a Industrigata.
Para onde é que o vão levar? Sim. Eu espero.
– Vamos tentar Alnabru – disse Beate e entrou no cruzamento em frente de
um eléctrico. As rodas giraram nos carris de aço até se conseguirem agarrar
ao alcatrão. Harry teve uma estranha sensação de déjà vu.
Tinham chegado a Pilestredet quando o homem do aterro sanitário de Oslo
voltou à linha para dizer que não conseguiam contactar o motorista pelo
telemóvel, mas que era provável que o contentor fosse a caminho de Alnabru.
– Óptimo – disse Harry. – Pode ligar para Metodica e pedir-lhes para não
esvaziarem o conteúdo do contentor no incinerador, até nós... O vosso
escritório está fechado entre as 11h30 e o 12h00? Cuidado! Não, estava a falar
com o meu motorista. Não, o meu motorista.
No túnel Ibsen, Harry ligou para o Quartel-general da Polícia e pediu-lhes
que enviassem um carro-patrulha para Metodica mas o carro disponível mais
próximo estava a, pelo menos, quinze minutos de distância.
– Merda! – Harry atirou o telemóvel por cima do ombro e bateu no tabliê.
Na rotunda entre Byporten e Plaza, Beate esgueirou-se por um intervalo
entre um autocarro vermelho e uma carrinha Chevy, passando por cima do
traço contínuo. Quando desceu a intersecção conhecida como a «máquina de
trânsito» a 110 quilómetros por hora e executou uma derrapagem controlada
sobre os pneus aos guinchos entrando numa curva apertada do lado do fiorde
da estação central de Oslo, Harry percebeu que a esperança não estava
completamente perdida.
– Quem foi o doido do filho da mãe que te ensinou a guiar? – perguntou ele,
a agarrar-se o melhor possível ao serpentearem por entre os veículos na via
rápida de três faixas que conduzia ao túnel Ekeberg.
– Fui auto-ensinada – respondeu Beate.
A meio do túnel Vålerenga, um caimão enorme, feio, a vomitar gasóleo
surgiu à frente deles. Arrastava-se pela faixa da direita; nas traseiras, preso no
lugar por dois braços mecânicos amarelos, encontrava-se um contentor verde
com as palavras ATERRO SANITÁRIO OSLO.