– Conhece Anna Bethsen, fru Albu?
– Claro que não. Deveria conhecê-la?
– Não sei – respondeu Harry com toda a honestidade. – Ela morreu. E eu
fiquei a perguntar-me o que é que uma fotografia tão pessoal estaria a fazer
dentro do seu sapato. Alguma ideia?
Vigdis Albu tentou esboçar um sorriso indulgente, mas a boca não lhe
obedeceu. Contentou-se com uma sacudidela enérgica da cabeça.
Harry esperou, sem se mover, descontraído. Tal como os pés se tinham
afundado no cascalho, também sentiu o corpo a afundar-se no sofá branco e
fundo. A experiência ensinara-lhe que o silêncio era o mais eficaz de todos os
métodos para fazer com que outros falassem. Quando dois desconhecidos se
sentavam um em frente do outro, o silêncio funcionava como um vácuo, a
sugar as palavras. Ficaram assim sentados durante dez segundos eternos.
Vigdis Albu engoliu em seco.
– Talvez a empregada a tenha visto caída algures e a tenha levado com ela.
E depois a tenha dado a essa... era Anna que ela se chamava?
– Hm. Importa-se que fume, fru Albu?
– Não fumamos em casa. Nem eu nem o meu marido... – Levou
rapidamente uma mão à trança. – Por causa de Alexander, o nosso filho mais
novo, tem asma.
– Lamento. Como é que o seu marido passa o tempo?
Ela olhou-o boquiaberta, e os olhos azuis grandes tornaram-se ainda
maiores.
– Quero dizer, em que é que trabalha? – Harry voltou a guardar o maço no
bolso interior do casaco.
– É investidor. Vendeu a empresa há cerca de três anos.
– Que empresa?
– A Albu AS. Importação de toalhas e tapetes de chuveiro para hotéis e
instituições.
– Devem ter sido muitas toalhas. E tapetes de chuveiro.
– A empresa trabalhava com toda a Escandinávia.
– Parabéns. A bandeira na garagem não é a bandeira de um consulado?
Vigdis Albu recompusera-se e tirou o elástico do cabelo. Harry pensou que