– Não faço a mínima ideia – disse Albu. – A minha mulher? Os meus filhos
talvez?
– Hm. – Harry procurou alterações nas pupilas, sinais de uma pulsação mais
acelerada, transpiração ou um enrubescer.
– Não sei qual o motivo disto, senhor agente, mas já que se deu ao
incómodo de me encontrar, presumo que não se trata de uma trivialidade.
Talvez possamos falar a este respeito em privado, depois de terminada a
minha reunião com estes cavalheiros do Handelsbanken. Se quiser esperar,
posso pedir ao empregado para lhe arranjar uma mesa na zona de fumadores.
Harry não conseguiu decidir se o sorriso de Albu era trocista ou apenas
prestável. Nem sequer isso conseguiu fazer.
– Não tenho tempo – disse Harry. – Por isso, se nos pudéssemos apenas
sentar...
– Receio também não ter tempo – interrompeu-o Albu numa voz calma,
mas firme. – Estou no meu horário de trabalho, e assim só poderemos falar
esta tarde. Isto é, se ainda for da opinião que o poderei ajudar nalguma coisa.
Harry engoliu em seco. Estava impotente e viu que Albu o sabia.
– Falamos então nessa altura – disse Harry e percebeu como soava patético.
– Obrigado, senhor agente. – Albu inclinou a cabeça com um sorriso. – E é
provável que tenha razão quanto ao vinho. – Virou-se de frente para um dos
homens do Handelsbanken. – O que é que estavas a dizer, Stein, a respeito da
Opticom?
Harry pegou na fotografia e, antes de sair, teve de suportar o sorriso
maldisfarçado do corrector da franja.
Na extremidade do pontão, acendeu um cigarro mas não lhe soube a nada e
deitou-o fora com um resmungo. O sol reflectia-se numa janela da fortaleza
Akershus e o mar estava tão calmo que parecia haver uma fina camada de
gelo translúcido no cimo. Porque é que fizera aquilo? Para quê aquela
tentativa suicida de humilhar um homem que não conhecia? Apenas para o
levantarem com luvas de seda e deitarem-no fora.
Ergueu o rosto para o Sol, fechou os olhos e perguntou-se se naquele dia
deveria fazer algo de inteligente para variar. Como desistir totalmente do
caso. Nada parecia fazer sentido; era apenas o habitual estado de caos e
desorientação. Os sinos da Câmara Municipal começaram a repicar.
Ainda não sabia que Møller tinha razão. Aquele ia ser o último dia quente