– Mas porque não ir directamente à questão e procurar as impressões
digitais de Albu no apartamento de Anna? Deve estar cheio delas.
– Duvido que ainda lá estejam. Segundo Astrid Monsen, há coisa de um
ano, ele deixou de ver Anna. Até um domingo do mês passado. Foi buscá-la
de carro. Monsen lembra-se claramente disso, porque Anna tocou-lhe à
campainha e pediu-lhe que se mantivesse à escuta de eventuais ladrões.
– E achas que foram para o chalé?
– Acho – replicou Harry, a atirar a ponta fumegante do cigarro para uma
poça onde silvou e morreu – que esse foi um dos motivos por que Anna
enfiou a fotografia no sapato. Consegues lembrar-te do que aprendeste acerca
de ciência forense na Universidade da Polícia?
– Do pouco que tivemos. Tu não?
– Não. Há estojos metálicos com o equipamento básico em três dos carros-
patrulha. Pó, escova e película plástica para impressões digitais. Fita métrica,
lanterna, pinças, esse tipo de coisa. Quero que requisites um desses carros
para amanhã.
– Harry...
– E liga previamente ao merceeiro para obteres direcções. Tenta soar
honesto e firme, para que ele não desconfie de nada. Diz que estás a construir
uma casa, e que o arquitecto que está a trabalhar contigo mencionou o chalé
de Albu como ponto de referência. Só o queres ver.
– Harry, nós não podemos...
– Leva também um pé-de-cabra.
– Ouve!
O grito de Halvorsen fez com que duas gaivotas, soltando guinchos roucos,
levantassem voo do fiorde. Ele contou os dedos.
– Não temos um mandado. Não temos qualquer prova que possa justificar
um. Não temos... nada. E, ainda mais importante, nós, ou devo dizer eu ?, não
estamos na posse de todos os factos. Não me contaste tudo, pois não, Harry?
– O que é que te leva a pensar...?
– Simples. O teu motivo não é suficientemente forte. Conheceres a mulher
não é um motivo suficientemente bom para de repente ignorares os
regulamentos, arrombares chalés e arriscares o teu emprego. E o meu. Sei que
consegues ser um pouco doido, Harry, mas não és parvo.