Harry observou a ponta do cigarro molhada a flutuar na poça.
– Há quanto tempo nos conhecemos, Halvorsen?
– Dentro de pouco tempo vai fazer dois anos.
– Alguma vez te menti durante todo esse tempo?
– Dois anos não é muito tempo.
– Alguma vez menti? É o que te estou a perguntar.
– Definitivamente.
– Alguma vez te menti a respeito de alguma coisa importante?
– Que eu saiba não.
– Ok. Agora também não te estou a mentir. Tens razão, não disse nada a
ninguém. E sim, estás a arriscar o teu emprego ao ajudares-me. Tudo o que
posso dizer é que estarias num sarilho ainda maior se te contasse o resto.
Assim, terás de confiar em mim. Ou desistires. Ainda te podes recusar.
Ficaram os dois a olhar para o fiorde. As gaivotas eram dois pequenos
pontos à distância.
– O que é que tu farias? – perguntou Halvorsen.
– Recusaria.
Os pontos aumentaram. As gaivotas regressavam.
Quando regressaram ao Quartel-general da Polícia, havia uma mensagem
de Møller no gravador de chamadas.
– Vamos dar uma volta – disse ele quando Harry lhe ligou. – A um sítio
qualquer – acrescentou Møller quando chegaram à rua.
– Ao Elmer’s – disse Harry. – Preciso de cigarros.
Møller seguiu Harry por um carreiro enlameado que atravessava o relvado
entre o Quartel-general e o passeio empedrado, que conduzia à prisão de
Botsen. Harry observara que os arquitectos nunca pareciam aperceber-se de
que as pessoas encontravam sempre o percurso mais rápido entre dois pontos,
independentemente do lugar onde se situava a estrada. No fim do carreiro
havia uma tabuleta que fora deitada ao chão: PROIBIDO PISAR A RELVA.
– Ouviste falar do assalto a um banco na Grønlandsleiret, efectuado hoje de
manhã? – perguntou Møller.
Harry assentiu.