– Porque estamos no novo milénio e já não se guardam as chaves das casas
debaixo dos tapetes. Em especial, num chalé de luxo. Assim, a não ser que
queiras apostar cem kroner, nem me vou dar a esse trabalho. Está certo?
Harry assentiu.
– Óptimo – disse Halvorsen, baixando-se para fechar o estojo.
– Quis dizer, apostado – disse Harry.
Halvorsen ergueu os olhos.
– Estás a gozar?
Harry sacudiu a cabeça.
Halvorsen agarrou a extremidade do tapete de fibra sintética.
– Um, dois, três – murmurou e afastou o tapete. Três formigas, dois bichos-
de-conta e uma bicha-cadela acordaram, e fugiram assustados pelo betão
cinzento. Mas nenhuma chave.
– De vez em quando és incrivelmente ingénuo – disse Halvorsen, de mão
estendida. – Porque é que ele iria deixar uma chave?
– Porque – disse Harry, cuja atenção fora captada pelo candeeiro de ferro
forjado junto da porta, e não vira a mão estendida – o leite azeda quando é
deixado ao sol. – Aproximou-se do candeeiro e desenroscou o cimo.
– O que é que queres dizer com isso?
– A entrega da mercearia foi feita um dia antes da chegada de Albu, não
foi? É óbvio que tiveram de guardar as coisas dentro de casa.
– E? Talvez o merceeiro tenha uma chave sobressalente.
– Não me parece. Acho que Albu não iria querer que alguém irrompesse
por aqui dentro, enquanto ele e Anna aqui estivessem. – Retirou o cimo e
procurou na parte interior de vidro. – E agora tenho a certeza.
A resmungar, Halvorsen baixou a mão.
– Repara no cheiro – disse Harry quando entraram na sala de estar.
– Sabão azul e branco – disse Halvorsen. – Alguém achou que o chão
precisava de ser lavado.
O mobiliário pesado, as antiguidades rústicas e a grande lareira de pedra
reforçaram a impressão de férias de Páscoa. Harry dirigiu-se às estantes de
pinho na outra extremidade da sala. Livros antigos nas estantes. Os olhos de