Harry correram pelos títulos das lombadas gastas, mas que transmitiam a
sensação de que nunca tinham sido lidos. Pelo menos, ali não. Poderiam ter
sido comprados a peso num dos alfarrabistas de Majorstuen. Antigos álbuns
de fotografias. Gavetas. Nas gavetas havia caixas de charutos Cohiba e
Bolivar. Uma das gavetas estava trancada.
– Então lá se vai a limpeza – disse Halvorsen. Harry virou-se e viu o
parceiro a apontar para as pegadas castanhas e molhadas que atravessavam
diagonalmente o soalho.
Descalçaram-se no vestíbulo, encontraram um trapo na cozinha e depois de
limparem o soalho, concordaram que Halvorsen iria ficar com a sala de estar
enquanto Harry ficava com os quartos e a casa de banho.
Aquilo que Harry sabia a respeito de buscas a casas, aprendera numa sala
de aula quente no Instituto da Polícia numa sexta-feira depois de almoço
quando estavam todos ansiosos por ir para casa, tomarem um duche e irem
para a cidade. Não tinham nenhum manual, apenas um certo inspector Røkke.
E naquela sexta-feira, ele dera a Harry a única dica que ele mais tarde viria a
utilizar como guia: «Não penses naquilo que estás a procurar. Pensa naquilo
que vais encontrar. Porque é que aquilo está ali? Deveria estar ali? O que é
que significa? É como ler – se pensares num “l” quando estiveres a olhar para
um “k”, não verás as palavras.»
A primeira coisa que Harry viu quando entrou no primeiro quarto foi a
enorme cama de casal, e a fotografia de Herr e fru Albu na mesa-de-
cabeceira. Não era muito grande, mas saltava logo à vista por ser a única
fotografia na divisão e estar virada para a porta.
Harry abriu um roupeiro. Foi atingido pelo cheiro das roupas de outras
pessoas. No interior não havia vestuário casual, apenas vestidos de noite,
blusas e dois fatos. E um par de sapatos de golfe com pitons.
Harry passou sistematicamente em revista os três roupeiros. Já era detective
há demasiado tempo para sentir vergonha por vasculhar os objectos pessoais
de outros.
Sentou-se na cama e estudou a fotografia. O pano de fundo era apenas céu e
mar, mas um ângulo da luz fez com que Harry pensasse que deveria ter sido
tirada em climas meridionais. Arne Albu estava bronzeado e tinha a mesma
expressão de traquinice infantil que Harry lhe vira no restaurante em Aker
Brygge. Segurava firmemente a cintura da mulher. De um modo tão firme que
a metade superior de Vigdis parecia estar inclinada na direcção dele.
Harry puxou o cobertor e o edredão para o lado. Se Anna tivesse estado