– Muito obedientes, estes Rottweilers – segredou Halvorsen.
Esperaram até ouvirem o carro a afastar-se pela estrada abaixo. Depois
apressaram-se até à sala de estar e Harry viu as traseiras de um Jeep Cherokee
azul-marinho a desaparecer. Halvorsen caiu sobre o sofá e recostou-se.
– Meu Deus – resmungou. – Durante um bocado imaginei-me a regressar a
Steinkjer com um despedimento desonroso. Mas que raio estava ele a fazer?
Mal esteve aqui dois minutos. – Voltou a levantar-se do sofá. – Achas que ele
vai voltar? Talvez tenha apenas ido à loja?
Harry sacudiu a cabeça.
– Foram para casa. Pessoas destas não mentem aos seus cães.
– Tens a certeza?
– Sim, claro. Um dia, ele vai gritar: «Vamos, Gregor . Vamos ao veterinário
para te abater.» – Harry perscrutou a sala. Depois aproximou-se das estantes e
passou um dedo pelas lombadas dos livros à sua frente, desde a prateleira de
cima até à do fundo.
Halvorsen assentiu sombriamente e olhou para o espaço.
– E Gregor irá a sacudir a cauda. Os cães são mesmo criaturas estranhas.
Harry parou aquilo que estava a fazer e sorriu.
– Não estás arrependido, Halvorsen?
– Bem, não me arrependo mais disto do que de qualquer outra coisa.
– Estás a começar a ficar parecido comigo.
- És mesmo tu. Estou a citar-te. Da vez em que comprámos a máquina de
café. Andas à procura de quê?
– Não sei – disse Harry. Tirou da prateleira um álbum grosso e grande, e
abriu-o. – Olha para isto. Interessante.
– Ah, sim? Voltei a perder-me.
Harry apontou para trás dele e continuou a folhear. Halvorsen levantou-se e
viu. Pegadas molhadas que conduziam da porta de entrada através do
vestíbulo até à estante junto à qual Harry parara.
Harry voltou a enfiar o álbum no espaço onde se encontrava, tirou outro e
começou a folheá-lo.
– Certo – disse passado um bocado. Levou o álbum ao rosto. – Aqui está.