estava lá a trabalhar. Vem de uma família rica e tradicional com toneladas de
influência política, segundo Rakel.
– Então conhecem alguns juízes, hã?
– Devem conhecer, mas nós achamos que vai correr tudo bem. O homem é
doido, e todos sabem disso. Um alcoólico brilhante com falta de autocontrole,
conheces o género.
– Acho que sim.
Harry ergueu os olhos rapidamente, mesmo a tempo de ver Halvorsen a
esconder um sorriso.
No Quartel-general da Polícia era do conhecimento geral que Harry tinha
problemas com o álcool. Actualmente o alcoolismo não era por si só motivo
para despedir um funcionário público, mas estar-se bêbado durante as horas
de serviço era. A última vez em que Harry tivera uma recaída, havia pessoas
em posições mais altas no edifício que tinham sido da opinião que ele deveria
ser removido da força, mas o politiavdelingssjef , PAS para abreviar, Bjarne
Møller, chefe da Brigada de Homicídios, estendera uma asa protectora sobre
as circunstâncias alegadamente atenuantes de Harry. Essas circunstâncias
estavam relacionadas com a mulher na fotografia por cima da máquina
expresso – Ellen Gjelten, a parceira e amiga íntima de Harry – que fora
espancada até à morte com um taco de basebol num carreiro, junto ao rio
Akerselva. Harry esforçara-se por se voltar a erguer, mas a ferida ainda lá
estava. Em especial porque, na sua opinião, o caso nunca fora
satisfatoriamente esclarecido. Quando Harry e Halvorsen tinham encontrado
provas forenses que incriminavam o neonazi Sverre Olsen, o inspector Tom
Waaler não perdera tempo em ir a casa de Olsen para o prender.
Aparentemente Olsen disparara contra Waaler, que por seu lado disparara em
autodefesa e o matara. Isto segundo o relatório de Waaler. Nem as
investigações no cenário do tiroteio, nem o interrogatório da SEFO, uma
autoridade policial independente, sugeriam outra coisa. Por outro lado, o
motivo que Olsen tinha para assassinar Ellen nunca fora explicado, para além
de indicações de que ele estava envolvido no tráfico de armas ilegais que nos
últimos anos inundara Oslo de pistolas, e que Ellen tropeçara nessa pista. No
entanto, Olsen era apenas o moço de recados. A polícia ainda não tinha
quaisquer pistas quanto aos cérebros atrás do homicídio.
Depois de uma breve inserção na Politiets Overvåkningstjeneste ou POT, os
Serviços de Segurança, no último piso, Harry voltara a concorrer à Brigada de
Homicídios para trabalhar no caso de Ellen Gjelten. O POT ficara muito