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América
s pessoas com sede bebem em qualquer lado. Por exemplo, no Malik
junto à avenida Thereses. Era uma hamburger house e não tinha nada daquilo
que dava ao Schrøder’s – apesar de todos os seus defeitos – uma certa
dignidade, como bar com licença para vender bebidas alcoólicas. Era verdade
que se dizia que os hambúrgueres que serviam estavam acima dos da
concorrência. De um modo caridoso até se poderia dizer que o interior de
inspiração ligeiramente indiana, com uma fotografia da família real
norueguesa, tinha uma espécie de encanto parolo. Contudo, era e sempre
seria, um restaurante de fast-food onde aqueles dispostos a pagar por uma
credibilidade alcoólica nunca sonhariam em beber as suas cervejas.
Harry nunca fora um desses.
Já há muito tempo que não ia ao Malik, mas quando ali chegou viu que
nada se tinha alterado. Øystein estava sentado com os seus companheiros (um
deles uma mulher) de bebida na mesa dos fumadores. Com o ruído de fundo
de sucessos pop desactualizados, o Eurosport e o som da gordura a crepitar,
estavam envolvidos numa conversa animada acerca de prémios de lotaria, um
homicídio triplo recente e os defeitos morais de um amigo ausente.
– Ora, olá, Harry! – A voz roufenha de Øystein cortou a poluição sonora.
Afastou do rosto o cabelo comprido e oleoso, limpou a mão na coxa das
calças e estendeu-a a Harry. – Este é o polícia de que vos estava a falar, malta.
Que abateu aquele tipo na Austrália. Atingiste-o na cabeça, não foi?
– Bom trabalho – disse um dos outros. Harry não lhe conseguiu ver o rosto
porque o homem estava inclinado para a frente, e o cabelo comprido caía-lhe
à volta da cerveja como se fosse um cortinado. – Exterminar os vermes.
Harry apontou para uma mesa livre e Øystein assentiu, apagou o cigarro,
guardou o maço de Petterøes no bolso da camisa de ganga, e concentrou-se
em levar a caneca de cerveja recentemente tirada até à mesa sem a entornar.
– Há muito que não te via – disse Øystein, a enrolar outro cigarro. – Já
agora, tal como o resto dos rapazes. Nunca os vejo. Mudaram-se todos,
casaram e tiveram filhos. – Øystein riu-se. Uma gargalhada séria, amarga. –
Assentaram todos por aí. Quem teria acreditado numa coisa dessas?